EDITAR POESIA
Quero proclamar, a quem me lê de boa vontade, o crédito que concedo acerca da minha prática poética em curso, na qual apresento como proposta um modelo inovador na vertente do Soneto.
Não se trata de contestação a velhas tradições que, em si, são património cultural de formas poéticas ancestrais mas, e só, a elaboração de perspectivas concernentes a abrir novos horizontes artísticos.
Já o tenho vindo a fazer ao longo dos anos em diversos trabalhos que se encontram editados e publicados e continuarei a aprofundar esta mesma visão quanto a projectos futuros.
Eu sei que não é fácil abrir estes horizontes de mão leve e também sei as barreiras que se vão levantando à medida que novas criações vão sendo reveladas. Mas igualmente quero esclarecer que, por temperamento e por convicção, não é comum eu deixar-me enredar por influências nefastas ou mesmo de má-fé que visem travar este caminhar.
E porquê iniciar esta postura perante um modelo standard que dá pelo nome de Soneto? Porque é precisamente nesta forma poética, mais usual nos escaparates livreiros e nas divulgações “democráticas” – vulgo redes sociais – onde o soneto é, sem dúvida, mais useiro e vezeiro na afirmação.
Por ser tão useiro e vezeiro é que se constata que é nesta expressão poética que se encontram os maiores dislates e vulgaridades, não só quanto aos conteúdos mas, principalmente, quanto à forma. Não quero falar em estatísticas nesta questão mas sabe-se à légua que o soneto está tão banalizado e gasto que, ele próprio, tem contribuído de uma forma lamentável para o descrédito da própria poesia.
Assim só vejo duas formas de encarar esta problemática e esta prática: a) ou assumir o que se pode definir como acção libertária, escrevendo por escrever, sem olhar a critérios mínimos; b) ou então tentar alterar as tendências generalizadas e banalizadas, assumindo novas formas e novos modelos.
A primeira hipótese, para mim, está fora de questão até porque, mais uma vez por temperamento e por convicção, não tenho feitio para conservadorismos nem seguidismos ou clientelismos camuflados e despersonalizados.
Logo, a postura que proponho e que assumo é a da segunda hipótese, isto é, o caminho da inovação e da originalidade. Atitude que pressupõe um aturado espírito de autocrítica permanente e, em simultâneo, uma atitude de actualização e de prevenção contra reacções internas e externas.
Posto isto, o que há a fazer? Apenas uma postura: a prática constante de escrita e de investigação permanente no que concerne à poesia.
Frassino Machado
In PARA ALÉM DA POESIA