Kafka, Proust, Allen, Süskind, Ludwig, Jung, Drummond e Sócrates falam aos críticos do “Álamo”.
Escreve Marcelo Backer sobre Franz Kafka, na edição comentada de "A metamorfose", seguida de "O Veredicto": "O desespero do homem moderno em relação à existência, a eterna busca de algo que não está mais à disposição, a pergunta por aquilo que não tem resposta são as características mais marcantes de sua obra". Kafka vivera fechado dentro de si mesmo. N'O processo', Kafka dissera: "O instante do despertar é o instante mais perigoso do dia". Seus heróis só conseguem bafejar a felicidade quando estão distraídos. Para Kafka, a felicidade só é atingida fora da reflexão. O escritor mais importante do século XX morreu sem saber que seria eterno.
Surrupiei de um diálogo do filme Little Miss Sunshine (2006) - entre um professor e o seu sobrinho adolescente, então às voltas com um sonho despedaçado: "Marcel Proust, francês, nunca teve um emprego de verdade; amores não correspondidos; homossexual. Passou 20 anos escrevendo um livro que quase ninguém lê. Mas, é talvez o maior escritor desde Shakespeare. Proust chegou ao fim de sua vida e refletindo decidiu que todos os anos que ele sofreu foram verdadeiramente os melhores anos, pois o fizeram ser quem era. Os anos em que foi feliz? Desperdício total. Não aprendeu nada".
Sobre Allen: "Todos os filmes de Woody Allen são auto-referenciais, pois falam dele, suas fobias e neuroses. Quem não leu a sinopse de ‘Poucas e Boas' antes de assisti-lo ou não entende nada de jazz vai achar que Emmet Ray (personagem vivido por Sean Penn) realmente existiu". É certo. Vi o filme e achei Bárbaro. Nele, a escritora Blanche Williams interpretada pela consagrada Uma Thurman leva o guitarrista a questionamentos sobre a sua forma de tocar: "- O que você pensa quando toca?"; "- O som, o ritmo, as ideias, de onde elas vêm?". A mulher diz, ainda, que ele tem que liberar os sentimentos retraídos - e vencer o medo - caso aspire realizar grandes canções. "- Você tem que sofrer diante das pessoas". O que de fato acontece. "A guitarra era o seu único amor. O resto era secundário. Esse é o ego de um gênio", divaga a escritora. No final, Blanche dispara: "- Ele só sentia dor pela música". Salve! Salve! Wood Allen.
Recorro à enciclopédia para falar de Ludwig van Beethoven. "A nona sinfonia foi a primeira a utilizar a voz humana, que figura no quarto movimento, com um coro e quatro solistas, sobre a poesia, modificada por Beethoven, do original de Friedrich Schiller "Ode an die Freude" (Ode à Alegria). Este movimento, assim como uma versão modificada do poema de Schiller, foi escolhido como Hino da União Européia, pela síntese que faz de ideais clássicos ligados ao Humanismo, à Fraternidade, à Liberdade e à Igualdade. A composição ocupou Beethoven durante todo o ano de 1823. Com essa obra conseguiu manter-se num certo distanciamento crítico das afirmações ideológicas, colocando-as na condicional. A Nona sinfonia representa a essência do pensamento de Beethoven na fase final de sua carreira".
E arremata:
"É um mistério que esta sinfonia monumental, uma das maiores e mais influentes de toda a história da música, pudesse ter sido escrita por um compositor imerso em completa surdez".
Ainda no víeis da música, a professora portuguesa Maria Augusta Gonçalves publica no Jornal de Letras Artes e Idéias, em 2006, no Alentejo, um artigo intitulado: Mozart a simplicidade da perfeição. Destaco o trecho: "Mozart vive sem dinheiro, extenuado de trabalho e de dor. Mas a criação impõe-se e o gênio acentua cada vez mais a dualidade sempre presente na sua obra: a leveza, a graciosidade, a par do lugar mais negro da emoção, o lugar íntimo que se afigura eterno. «A música de Mozart nem sempre é sorridente», dizia Helena Sá e Costa, uma das grandes intérpretes do compositor. «Também há o sofrimento. Parece simples, mas é muito difícil, por causa dos sentimentos. O intérprete tem de compreender Mozart. Mozart tem a simplicidade suprema das coisas perfeitas, a simplicidade do essencial».Diz-se que Mozart, obsessivo com ideias de morte desde o falecimento de seu pai, Leopold, debilitado pela fadiga e pela enfermidade que lhe atingia, muito sensível ao sobrenatural devido às suas vinculações com a franco-maçonaria e impressionado pelo aspecto misterioso do homem que encomendou a missa, terminou por acreditar que este era um mensageiro do Destino e que o réquiem que iria compor seria para seu próprio funeral. Mozart morreu a 05 de Dezembro de 1791 e foi enterrado no cemitério de Viena, na vala comum dos indigentes".
Ao ler "O perfume", de Patrick Süskind, encontro o personagem Grenouille em viagem pela França: "Só quando a noite com seus supostos perigos havia varrido os homens da terra é que Grenouille se arrastava para fora de seu esconderijo e continuava viagem. Não precisava de luz para ver. Já antes, quando ainda caminhava durante o dia, com freqüência mantivera durante horas os olhos cerrados, só caminhando orientado pelo nariz. Doía-lhe a imagem viva da paisagem, ofuscante, fazia-lhe mal ver com os olhos. Só a luz do luar lhe agradava. A luz do luar não conhecia cores e só vagamente assinalava os contornos do terreno".
Em Drummond, vejo por entre "retinas fatigadas", um Carlos sorumbático. Embora tenha, quem sabe, a receita da vida quando, em versos, testemunha o seguinte: "Se procurar bem você acaba encontrando./ Não a explicação (duvidosa) da vida,/ Mas a poesia (inexplicável) da vida"./ No poema, a seguir, fala de resignação: "inútil você resistir". "Carlos, sossegue,/ o amor é isso que você está vendo:/hoje beija,/ amanhã não beija,/ depois de amanhã é domingo/ e segunda-feira ninguém sabe o que será"./ Enfim, o poeta itabirano sentencia: "chegou um tempo em que a vida é uma ordem. A vida apenas, sem mistificação". Observem: "Chega um tempo em que não se diz mais:/ meu Deus./ Tempo de absoluta depuração./ Tempo em que não se diz mais:/ meu amor./ Porque o amor resultou inútil./ E os olhos não choram./ E as mãos tecem apenas o rude trabalho./ E o coração está seco./
Folheava, despretensiosamente, uma revista especializada em filosofia e de soslaio capturei o seguinte: "Através da Filosofia, o homem aprende a questionar a vida, a sua existência e tudo o que o rodeia. Ao pôr em dúvida aquilo que não compreende procura encontrar respostas. Os filósofos gregos, que "inventaram" a Filosofia, fizeram-no a partir do seu espírito de observação aliado ao seu poder de raciocínio. Na Grécia os pensadores refletiram sobre a natureza e a partir de Sócrates, sobre o próprio homem, procurando saber como o espírito humano funciona, sente e raciocina e ainda quais os deveres do homem e qual o fim da sua existência".
Melancólico, eu?
Por fim: "Quem olha para fora, sonha, quem olha para dentro, desperta!" (Carl Gustav Jung)
*Folhas do Álamo é o título do livro de aforismos do jornalismo Misael Nóbrega publicado em 2007 pela gráfica e editora real de Cajazeiras-PB