A Pseudo Arte de Escrever Difícil

Escrever é um dom, mas no mundo de hoje só isso não basta, é preciso convencer e fisgar o leitor- consumidor. Na praticidade atual ninguém merece ler textos maçantes, com excesso de adjetivos e palavras complicadas, muito menos sofrer querendo, é o que acontece quando temos em frente de nossos olhos um texto de difícil compreensão. Quem escreve complicado é por que não tem nada a ensinar, pode até dominar um assunto, mas jamais vai ser uma unanimidade, vai acabar no arquivo morto da História, na contra mão do “Mito da Caverna”.

Obviamente não estou falando de termos técnicos, de bulas, e teorias científicas, elas hão de se valer de tais “modus operandi”. Também não falo da linguagem conotativa. Figura de linguagem é outra coisa, - tem sua imunidade - a metáfora é uma sutil comparação poética, a ironia implícita é de uma realeza de sangue azul, a prosopopeia, a catacrese, e as metonímias são o ápice de qualquer poesia. Mas, para tudo tem um limite. Adjetivos em excessos como nos livros de Chico Xavier são purgantes intragáveis. Tipo: inteligentíssima e amadíssima querida rainha dos floreios mil. Chega de exemplo!

Alguns escritores por conhecerem ou coletarem palavras de difícil compreensão pensam ser uma coca cola no deserto, e partindo desse egocentrismo contagioso, querem ser reconhecidos como um novo Euclides da Cunha. Vendem palavras sem nenhum pensamento original. Não entendem a diferença entre palavra e vocábulo. E por mais inovador e culto que foi Euclides ninguém merece ler “Os Sertões” sem um objetivo definido, livro que confesso que abandonei dezenas de vezes ás traças. Não desmerecendo o escritor, pelo contrário, enfatizo sua importância, mas o livro mata o leitor antes da terceira página.

Muitas vezes os escritores lançam teorias como doutores de uma causa e se perdem dentro das próprias explicações. No campo formal, o filósofo inglês William de Occam, propunha que, entre hipóteses formuladas sobre as mesmas evidências, é mais racional acreditar nas mais simples. A Navalha de Occam - sua teoria - é um princípio metodológico, embora não afirme o que é verdade e o que não é, sugere que as explicações mais simples são sempre as mais próximas da verdade, e que as mais complexas devem ser refutadas em qualquer situação.

O tempo “viaja na velocidade da luz” e precisamos dizer tudo escrevendo pouco. De preferência como os escritores franceses, que escrevem em geral, em linha reta, e em períodos curtos. Escrevem como se falassem. É certo que ignoramos que a maior parte do tempo de um escritor é destinada às pesquisas, para depois escrever, e que muitas vezes depena várias bibliotecas para fazer um só livro. Mas também é preciso que ele não se apegue demais à leitura, pois quem lê demais também “emburrece”, e repassa o que leu de outros, sem dar na verdade a sua opinião. Não acrescenta nada. Torna-se um papagaio da teoria alheia.

Foi-se o tempo do latim nas igrejas, onde a maioria dos fiéis dormia e roncava nos bancos. Embora eu adore ler e usar algumas expressões em latim – frases pontuais – porém é preciso bom senso para não exagerar também no tempero. A internet acabou por enterrar o falso parnasianismo e o lero lero dos escritores de primeira viagem. Escritores que se lançam no mercado sem nenhum talento, enxertando frases prontas, plagiando o próprio plágio. Não acredito em inferno, mas se houver, haverá o lugar do plagiador pertinho do fogo.

Com o passar dos anos muitos escritores se arrependem de ter escritos seus livros. Muitos deles mudaram de opinião, pois mudaram suas crenças, suas experiências e seus conhecimentos. Caso típico de Érico Verissimo, - que no prefácio de “Olhai os Lírios do Campo” - ele mesmo confessa ser este o livro mais simplório que escreveu, mas se todos gostaram, se atendeu aos editores, e ao gosto dos leitores, que ficasse assim, com sua metade de experiência de vida. Eu também já me arrependi de alguns textos. E como dói um texto sem sentido perdido por ai. Mas só depois de morto é que cada escritor revela quem ele mesmo é. Poucos sobreviverão à sua morte.

Depois de Shakespeare , nada se cria, tudo se copia. Rui Barbosa nunca repetia as palavras num texto – mostrando seu repertório - sem cair no ridículo de falar às moscas. Nessa luta pelo simples, pelo natural, com clareza, teve quem sugerisse criar uma clínica para dependente de gerúndio. Deixando a ironia, nada mais fora de moda do que as parábolas – ridículas lições de moral - e os livro de auto ajuda, que só ajudam a eles mesmos, ajudam a enriquecer os Augustos Curis, os Paulos Coelhos e as Zíbias da vida. Por favor, escritores, que não têm nada de novo para dizer, nada criativo, e nem construtivo e cultural. Que se calem para o bem da literatura e devolvam o dinheiro aos seus inocentes leitores.

WAGNER FERREIRA
Enviado por WAGNER FERREIRA em 19/07/2016
Reeditado em 02/05/2017
Código do texto: T5702274
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