EM POESIA: O INSPIRADO E O TRANSPIRADO

Que ‘mestre’, que nada, sou apenas um condenado ao sentir e ao pensar... Primeiro chega a emoção que fala por si, livre, desgovernada, sem nenhum vetor contrário aos ventos intuitivos. Depois é que "a porca torce o rabinho"... De que maneira melhorar o texto esteticamente? Dizer o Novo com pequenos reparos verbais, utilizando a subversão da linguagem original (metáforas) e a construção frasal. O desafio é este: melhorar esteticamente o que já está posto, e enfim, noutro momento dado, em outra conjuntura de fatores emocionais. Nunca se reeditará o momento intuitivo da criação original, porque no espírito humano nada é uniformemente repetitivo. Sempre ocorrerão novas nuances. Acredito que se pode refazer a peça poética cumprindo um melhor patamar estético. Vale dizer: mais aprimorado verbalmente, mais belo esteticamente, mais verdadeiro no conteúdo e mais capacitado a chamar a atenção do poeta-leitor a ponto de nele permanecer como algo dotado de novidades semânticas e propostas interessantes ao processo reflexivo. O poeta-autor vai acrescendo vocábulos, conhecimentos sob o assunto em discussão, codificações metafóricas essenciais, técnicas de construção dos versos, macetes rítmicos, etc. Quanto a mim, não sei se, a rigor, tenho talento para a Poética e seus redutos, porém me apercebo de algo sintomático: tenho uma persistência de fazer inveja aos que se contentam com o fácil. O texto definitivo, enfim, é fruto desta conjunção de valores exsurgida na cabeça do criador literário. O que devemos ter em alta conta é que o versificador deve ter consciência de que o poético tem como destinatário alguém que ele nunca saberá, por antecipação, quem é. Convém nunca subestimar o entendimento do receptor. Este é o imponderável desafio que nos aturde...

– Do livro OFICINA DO VERSO, 2016.

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