PEQUENA INICIAÇÃO AO MINICONTO

Por Leon Cardoso da Silva

A ideia de provocar efeitos artísticos de acordo com a utilização de um número limitado de elementos me parece ser sempre um desafio para quem faz literatura. Obviamente, há nessa produção uma dificuldade inerente ao grau de objetividade e precisão que se deseje alcançar. Assim, me parece que quanto maior é a profundidade de um texto, como fruto desta perspectiva, maior deve ser a complexidade desse texto e dificuldade por parte do autor. Para Faccioli (2000) “um conto é uma estrutura armada de “maneira inteligente”, que pede e convoca a participação intelectual de seu leitor, sem que o subestime ou superestime” . Acredito que esta perspectiva se intensifica com o miniconto.

Piglia começa seu célebre artigo “Teses sobre o conto” afirmando que “num de seus cadernos de notas, Tchekhov registra esta anedota: ‘Um homem em Montecarlo vai ao cassino, ganha um milhão, volta para casa, suicida-se’. A forma clássica do conto está condensada no núcleo desse relato futuro e não escrito ” (2004, p. 89).

Até podemos dizer que essa produção artística surge como uma reação contra a prolixidade e a redundância ocorridas em certos períodos literários. É uma forma literária que, por sua vez, faz com que o leitor interfira no enredo e participe quase como um personagem da narrativa. São porventura textos que se limitam a uma extensão consciente do ponto de vista da criação literária e isso acaba sempre colocando o leitor sob tensão, uma vez que o miniconto, para ter sua significação plena exige a interpretação do leitor. E acrescento que não é só interpretação, mas, em certa dose, desconstrução e recriação.

Por isso tenho o prazer de apresentar aqui uma série de minicontos que acredito estarem de acordo com a perspectiva que acabo de mencionar. Confesso que nem sempre é fácil enxugar um texto, independente de sua extensão. O autor sempre corta partes que acaba tendo significado para ele próprio, em sua subjetividade, mas vista em conjunto pode não ter uma significação intensa para quem lê. Por isso, o miniconto pode ser confundido com uma facilidade por conta de sua extensão intencionalmente curta. Há contos, por exemplo, escritos com cinco palavras e pouco mais de vinte letras como é o caso do conto “No embalo da rede” escrito por Carlos Herculano Lopes e incluído em uma coletânea intitulada como “Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século” (2004), organizada por Marcelino Freire.

NO EMBALO DA REDE

Vou,

mas levo as crianças.

É por essas e outras que Drummond dizia “escrever é cortar palavras”, João Cabral acrescentava “enxugar até a morte” e Hemingway concluía “corte todo o resto e fique no essencial”. Acho que esta é a objetividade que rodeia a produção de minicontos ou microcontos, como se queira expressar. Cortar partes e ficar no essencial, sem perder características definidoras e necessárias para esse gênero literário.

Leon Cardoso
Enviado por Leon Cardoso em 05/07/2016
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