O POEMA É AGRADÁVEL MÚSICA

Nos dias atuais, a teor dos preceitos técnico-estéticos aplicáveis à arte poética e o que temos como registro da contemporaneidade, os poemas que aparecem nas redes sociais (especialmente no Facebook), contém versos com quase nada de conteúdo em matéria de Poesia. No entanto, de quando em vez, laivos criativos de poetas-autores dotados de genialidade é a exceção que apenas confirma a regra. No âmbito do lírico-amoroso, comparecem alguns exemplares com apreciável doçura e visível derramamento de ideias, nada mostrando de codificação, contrariando a característica formal da Poesia como gênero único. Percebe-se, ao olhar analítico, que inexiste preocupação com a síntese ou concisão, porque utilizado excessivo número de versos, os quais carecem exatamente do mais característico e essencial: o dizer poético assentado nas figuras de linguagem, especialmente a metáfora. Esta verborragia é encontrável em todo o tipo de publicação: impressa, plataformas virtuais na grande rede ou agregada a peças de arte plástica (posts), nas quais ocorre a congeminação de texto e ilustrações gráficas ou digitais. Bem, o chamado poema da contemporaneidade – o exemplar do séc. XXI – é expressão de síntese vocabular, agregada à melodia que o andamento das palavras propõe. Há que se conseguir este efeito e dizer muito ocupando poucas linhas, tal como ocorre no soneto: quatorze versos, dois quartetos e dois tercetos, utilizando-se silabação fônica e rimação. No decorrer de toda a peça comparece um perceptível e singular ritmo. No poema de versos livres ou brancos da modernidade pode (raramente) acontecer a utilização de rimas, tal como ocorria nos espécimes da poesia do classicismo. Um bom final de peça (o fecho de ouro) em versos rimados pode ajudar em muito quanto à empatia do poeta-leitor para com o mesmo. Todavia, não assegura ritmicidade integral ao poema, especialmente para o receptor que tenha ouvido atento e afinado. E o ritmo é imanente à Poesia, porque o poema é uma peça constituída de beleza musical. Rimas, mesmo que bem colocadas, são meras ‘muletas’ da ritmação. Lembremos que ao falarmos em Poética (tanto na espécie prosa poética como em poesia) se pressupõe tempo musical aos ouvidos de alguns exigentes poetas/leitores. Sem o apropriado ritmo, não há a se falar em peça verbal de natureza poética.

– Do livro OFICINA DO VERSO, 2015/16.

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/5672072