AO SOPRO DA INTUIÇÃO

Poderá o humano entronizar-se em estado de pureza no céu dos anjos, a não ser na hora do chamado aleatório para a feitura do poema com autenticidade? Filio-me à corrente de pensamento de que o homem é intrinsecamente bom. Mesmo que, especialmente nas adversidades, se permita concessivo e compactue com a superposição do mal – sua parcela proscrita não delatada, sempre manhosa, dissimulada. Percebo, então, que a Poética – nascida num respiro intuitivo, quase ausente a intercessão da intelecção – é aquilo que exsurge do melhor de nós. Desta sorte, todos os esforços dos espíritos bem formados deverão ser no sentido da preservação dos mais íntimos valores de confraternidade, de solidariedade nas ações, exercício lúdico da sua condição de conhecimento e sapiência, visto que é o único animal pensante: o “homo sapiens” – individuado espécime na caminhada terrena. É o Humano com a sua digital mais próxima do Absoluto. E esta nunca é bastarda ou crápula. Todavia, é impossível comparar o ser criado ao Criador. Aliás, de somenos, parece-me que ele o cria quando sente necessidade de se perdoar...

– Do livro O PAVIO DA PALAVRA, 2015/16.

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