CELEBRAÇÃO DA ALEGRIA
Há alguns dias em que a natureza conspira a nosso favor até nas condições climáticas. O astro-rei com largo sorriso no firmamento é um convite à reflexão sobre o tempo de chegar, o eixo da trajetória e o deslanche inexorável para a partida. Enquanto não atingimos o portal do outro tempo (é possível que ele exista), temos de continuar dando o melhor de nós aos outros, ratificando a natureza gregária e fraterna para com os semelhantes. Não só pelos postulados bíblicos, mas pela natural condição humana. Cada dia é digno de celebração. Concelebremos o viver com os raios luminosos com que o astro nos saúda. Nestas oportunidades, a sensação de estar vivo vai além do esperável. Quando isto ocorre, o estar alegre é o melhor fruto da poética como bálsamo. Aquele estado sobre o qual dificilmente escrevemos, por estarmos prenhes de contentamento, abertos à vida que chega, mesmo que marcada pela imprevisão. E a Poesia (nele) tem gosto de festa, porque a palavra adquiriu asas de Ícaro, sem que seja incidente o medo do desprendimento no voo. Não há vocábulos capazes de traduzi-la... A alegria é poema original e raro na trajetória humana.
– Do livro O PAVIO DA PALAVRA, 2015/16.
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