A CRIAÇÃO POÉTICA: MARESIA NO RIO DE VIVER

Pobre de mim, proletário que só lida com as palavras, e que reage – fundamentalmente – mercê da instigação de atos e fatos. E, ainda mais, com a predileta opção sobre os intrincados cadinhos da Poética, portanto, construção nascida através da palavra em seu vestido de festa. Porque Poesia é a palavra em sua indumentária de gala, aquela que tem por destinação o brilho e a beleza... Porém, nem as figuras de linguagem, especialmente as metáforas – ricos paramentos aos olhos do observador – retiram a humílima condição de apenas vocábulo inquieto, que, por sua contorção imagética, é como a areia do mar sempre revoluteado segundo os ventos que impulsionam a maresia. Vale dizer, grão-semente do presente para o futuro, na construção do castelo do saber individuado. Como criatura – humano ser – nada há de ser frutificação da imponência ou soberba no autêntico escritor. A palavra, sim, esta pode ser elevada à imponência, segundo a cuca do poeta-leitor e o conjunto de valores que ela açambarca. E são estes que formarão o patamar da palavra, o qual será sempre precário e verdadeiro tal o Rio da Morte. Todavia, pode ocorrer que no último suspiro de seu autor, a palavra poética não venha a finar-se junto com ele. Também porque a Palavra é a humilde voz do homem sobre a passagem do Senhor Tempo. E é ela que registra o pensar dele naquelas eras...

– Do livro O PAVIO DA PALAVRA, 2015/16.

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