O POETA E A PALAVRA

A palavra poética é o chacoalhar de chão batido de há muito tempo e exposto a variadas intempéries. O poeta é um condenado à persistência e ao zelo. Lida com a farsa, a fantasia e o sonho, portanto incapaz de somar capital rentável com poder de compra imediato, como ocorre nas superficiais relações de consumo. Em regra, o poeta é materialmente pobre, apenas sobrevive com o que ganha. Mas é único em sua originalíssima riqueza espiritual. Dificilmente o filho da riqueza material conseguirá produzir Poesia: seus olhos não veem e o seu coração não registra as impressões geradoras do Belo, por estar ocupado com outras coisas mais palpáveis. Porque a Poética é o sopro modulado que lhe vai além dos lábios, depois de emitido. E nasce para ser transmitida, concelebrada entre aqueles que vão muito além do apenas comer, beber e deliciar-se com os costumeiros prazeres que a vida oferta...

– Do livro OFICINA DO VERSO, 2015/16.

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