Quem conta um conto aumenta um ponto
Contar história não é coisa fácil. Eu nunca tive coragem de enfrentar público, ficar em pedestal, encarar plateia ou coisa que o valha. Muito menos fazer discurso, homenagens, ser mestre de cerimônias. É muito tenso ter que falar para várias pessoas, e mais difícil ainda é tentar atrair a atenção sem ser severo ou desagradável. Eu não tenho a menor paciência e também não consigo falar para o vento, fingindo que as pessoas prestam atenção. Por isso sempre fujo dessas atividades. Mas não dá para escapar de todas elas.
Conheci a contadora de história Danielle Andrade em 2015, através de Ligia Benigno, produtora cultural. E nas andanças literárias e culturais, acabei fazendo parte do grupo de poetas do Sarau da Onça que tomou aulas de contação de história. Daí em diante contei uma história na creche do bairro, depois na pediatria do Hospital Ana Nery e, agora, no Parque São Bartolomeu, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, durante o Encontro Baiano de Contadores de Histórias, promovido pelo Cardume – Coletivo de Contadoras e Contadores de Histórias da Bahia. De grão em grão, vou enchendo meu papo...
E papo é o que não pode faltar quando o assunto é criança. Ou você encanta com palavras e gestos ou elas procuram logo uma coisa pra fazer e deixa você falando sozinho, literalmente. É parte do aprendizado, na prática, que o contador de história vai sedimentando ao longo de sua caminhada.
Meu caminho é longo, eu sei. Nenhuma atividade cultural é tão fácil quanto parece. Mas estou seguindo, tateando, inventando, aumentando um ponto em cada conto, virando coautor dos escritores, recebendo, também, sugestões da criançada que, sempre, interfere na história, inclui coisas inimagináveis. Afinal, são crianças, inventivas, curiosas, ávidas por aventuras, por atenção, aprendizado com brincadeiras.
E brincando se aprende muito. Tanto que um dos meninos da roda me pediu o texto da história que eu contei. Ele queria contar para os irmãos o que tinha ouvido ali, embaixo de um pé de jaca, sentando sobre uma esteira, em pleno domingo de manhã, no Parque São Bartolomeu. Eu pensei, pensei, mas dei a história impressa pra ele. Afinal, não somos donos de nada nesse mundo, somente daquilo que inventamos na cabeça, até que a invenção saia por aí encantando outras mentes...
(*) Valdeck Almeida de Jesus é escritor, poeta, jornalista e aprendiz de contação de história.
Fonte: http://galinhapulando.blogspot.com.br/2016/03/quem-conta-um-conto-aumenta-um-ponto.html
http://www.iteia.org.br/jornal/quem-conta-um-conto-aumenta-um-ponto