A ROSA DO ÓCIO CRIATIVO

O ser humano do lugar comum da vida nunca escreverá no gênero Poesia, pois este espécime do "homo sapiens" só consegue aceitar o que a vida coloca no seu caminho, e frente ao pragmatismo característico destes tipos humanos, não há como imaginar-se a transmutação do mundo. Bem, tudo começa a partir da cuca do observador, de como este concebe o seu entorno vital. Aos artistas caberá a proposta de redimensionamento e da necessária reativação do gregarismo: a convivência amena e gozosa entre a criatura e os seus semelhantes. Os poetas – um dos espécimes mais exponenciais desta transfiguração da matéria do viver – são considerados "marginais", porque correm à margem da vida rotineira, cotidiana, segundo os estudiosos de todos os tempos. E como é consabido, no viver societário, quem não afina pelo mesmo diapasão, é visto como "maluco". Eu fui picado desde cedo por esta víbora de várias cabeças, que produziu essa maluquice que me permite ser uno e vário, ao mesmo tempo. Direto das mãos do Absoluto, os meus alter egos são o que de melhor tenho. Como diria Ortega y Gasset: eu sou eu e minhas circunstâncias... O estresse diário funda, no espiritual, a Poética, que é flor do melhor de nós – a bendita rosa do ócio criativo, aquela que torna o ser limpo de maldades e dos pragmatismos excludentes do outro. O seu perfume esparge, a partir de mim, o permanente estado de liberdade e inocência...

– Do livro OFICINA DO VERSO, 2015/6 - introdução.

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