A história proibida de Eduardo Dias
Estimadas Leitoras, caros Leitores,
Na segunda-feira, dia 22.02.16, o jornalista Cacau Menezes apresentou em seu quadro no Jornal do Almoço, da RBS TV, emissora afiliada da Rede Globo em Santa Catarina, cenas de um documentário ou vídeo que o cineasta Zeca Nunes Pires teria feito ou estaria fazendo (peguei a matéria após o seu início, daí minhas incertezas) sobre o pintor catarinense Eduardo Dias de Oliveira, nascido na Ilha de Santa Catarina.
À tarde, enviei-lhe por correio eletrônico, com cópia ao Zeca, o texto que segue abaixo.
De imediato, a mensagem foi para o blogue do Cacau no sítio do Diário Catarinense, jornal em que ele mantém página dupla diária. Está no endereço http://dc.clicrbs.com.br/sc/colunistas/cacau-menezes/noticia/2016/02/a-historia-proibida-de-eduardo-dias-4981091.html.
Em seguida, convidou-me para gravar uma entrevista para o seu programa de domingo, "De Tudo um Pouco", na TVCOM, emissora regional da RBS em SC. Ocupamos dois dos quatro blocos de 15 minutos do programa e a entrevista vai ao ar neste domingo, 28.02.16, às 20 horas, com reprise às 23h30, no canal 36 da Net.
Convido-os, aos que têm acesso ao canal (eu não tenho) - mas pode ser pela internet -, a assistir ao programa: falamos de Eduardo, história, cultura, futebol, costumes locais e assuntos correlatos.
Grato pela nobre e sempre tão digna atenção,
Amilcar Neves.
A HISTÓRIA PROIBIDA DE EDUARDO DIAS
Prezado Cacau,
Assisti hoje à tua intervenção no Jornal do Almoço falando de Eduardo Dias e mostrando algumas obras do nosso grande artista ilhéu. É fundamental que se noticie a existência de homens e mulheres que muito fizeram por esta terra.
O escritor Francisco José Pereira, já falecido, e eu pesquisamos a vida e o tempo do pintor durante mais de 2 anos. Fotografamos mais de 2.000 recortes de jornal e revista, consultamos dezenas de livros, gravamos quase 20 horas de entrevistas com pessoas que tiveram contato com ele e, em especial, com parentes do artista, muitos dos quais jamais haviam sido ouvidos: D. Ernestina Hermenegildo Dias, sua nora hoje já falecida, D. Ivone Silveira Faria, sua neta mais velha e que teve contato mais íntimo com o artista (ela declamou para nós um soneto que Eduardo escreveu para a esposa, a italiana de nascimento Maria Covasolli Dias), outros netos, sobrinhos e bisnetos. Tivemos acesso a fotos de família inéditas na imprensa, temos cópia dessas imagens. Localizamos e fotografamos 60 obras do artista.
Escrevemos um livro na tentativa de recuperar a memória de Eduardo e as dificuldades de seu tempo, em especial o desprezo que sofria por parte das elites locais que valorizavam apenas o que vinha de fora, dos chamados centros grandes.
Este foi o nosso erro: o livro, todo baseado em fatos documentados e testemunhos pessoais, "viveu" 40 minutos.
Uma sobrinha do conhecido historiador, professor, médico e deputado Oswaldo Rodrigues Cabral não gostou do que a imprensa escreveu sobre o que seria uma suposta referência ao seu tio no nosso livro e entrou com um pedido de suspensão do lançamento da obra, organizado no MASC, museu que abriga diversas telas de Eduardo. O juiz de plantão concedeu a liminar e o lançamento, iniciado às 19h30 do dia 28.07.2005, foi abortado por uma Oficial de Justiça às 20h10.
A seguir, essa sobrinha entrou com processo pedindo adicionalmente indenização por danos morais e proibição de circulação do livro. Trouxe de Brasília um neto do pintor fluminense Galdino Guttmann Bicho, que morou na Ilha durante o ano de 1919, participante do livro como personagem secundário. O neto entrou com processo semelhante, patrocinado pela mesma advogada dos outros dois processos. A sobrinha perdeu a causa, mas o neto ganhou a sua. No ano passado, dez anos depois do lançamento, o espólio do Francisco Pereira, sua editora, a Garapuvu, e eu tivemos que desembolsar um dinheiro, que ainda agora me faz bastante falta, para indenizar um sujeito que foi denunciado pelo Ministério Público Federal do DF e demitido de cargo público federal por desvio de dinheiro público...
O livro está proibido de circular.
Com isso, a memória de Eduardo Dias, que tanto sofreu discriminações e necessidades em vida, foi igualmente escamoteada como se o artista ainda não tivesse direito a voz.
Fico satisfeito ao constatar que volta-se a falar do nosso grande pintor, ex-sapateiro e magnífico retratista. Espero que, agora, possa-se falar livremente a verdade sobre a vida de Eduardo e sobre o meio em que viveu e penou.
Com o abraço cordial do
Amilcar Neves.
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Amilcar Neves é escritor com oito livros de ficção publicados, coautor de "O Tempo de Eduardo Dias - Tragédia em 4 tempos". A partir de 26.08.2013 integra o Conselho Estadual de Cultura, na vaga destinada à Academia Catarinense de Letras, onde ocupa a Cadeira nº 32. Por nove anos e meio publicou crônicas toda quarta-feira em jornal de circulação estadual em Santa Catarina.
"As redes sociais dão o direito de falar a uma legião de idiotas que antes só falavam em um bar depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a humanidade. Então, eram rapidamente silenciados, mas, agora, têm o mesmo direito de falar que um prêmio Nobel. É a invasão dos imbecis."
Umberto Eco ao jornal La Stampa