A FRUIÇÃO DO GOZO
O bem lavrado poema lírico refoge do usual derramamento verbal, meloso, que ocorre em alguns exemplares do restrito universo do "toi et moi", o costumeiro “eu e tu” do colóquio amoroso, tão comuns na virtualidade. Todo o poema tem de conter síntese, ritmo e imagética: o feeling poético pejado de descobertas do que é realmente Poesia. É sempre importante ter em conta de que é necessário proscrever a costumeira tentativa de o possesso autor fazer-se arauto de suas carências: exibir a fantasiosa fixação sexual que o poema pode conter, sem aclarar a olhos vistos o pornográfico ou pornofônico que a palavra verbalizada pode traduzir. Bem, o certo é que a cópula (no fato e no poema) se dá no sentir neuronal, no carente fruir do ego. Porque não há nada mais humano do que sentir no corpo a presença do “fogo que arde sem se ver”, como disse Camões. E se ter a consciência de que este é um momento único tão gozoso quanto o nascer do poema...
– Do livro POESIA DE ALCOVA, 2015/16.
http://www.recantodasletras.com.br/artigos/5530698