FRÁGIL
Uma das coisas interessantes da vida é perceber a fragilidade das pessoas. Os poetas demonstram aspectos gigantescos da palavra, com conotações diversas.
A fragilidade é atributo sentimental; o gosto se sobrepõe àquilo que nos interessa que, por sua vez, é o que se aproxima do homem numa espécie de cumplicidade, em que encontramos um dos principais mecanismos da sobrevivência, a identidade ideológica. Ivaldino Tasca, no conto Sombra Frágil, aponta os descompassos no relacionamento, fazendo o contraponto entre a fragilidade e a necessidade de continuarmos vivos.
Ser frágil nos leva a olhar o mundo com pertinência e, assim, não julgar as promessas, por que tentamos preservar a sensibilidade como bem querer. Pedro Du Bois retrata, “Frágil // O caminhão leva nossas coisas / tantas / matérias / trastes / de tempos outros // não carrega nossas angústias / saudades / lembranças / amores / desilusões / infância e juventude // mesmo a maturidade / encaixotada / fica na sala vazia // o envelope com a vida / em fotografias / recebe o adesivo: / frágil”.
Não demonstramos várias fragilidades que estão “dentro” de nós e que, no máximo, são percebidas através de uma janela num mundo sem horizontes. Mas, podemos nos comover com as atitudes e sentir a fragilidade como ideia e gesto e assim demonstrarmos o que temos de mais importante e valioso; como em Dinair Fernandes Pires, “Há momentos e até mesmo dias em que o único desejo que se tem é enrodilhar-se, ou seja, colocar a alma em posição fetal. Descansar no próprio colo. Afagar as mágoas. Agasalhar a fragilidade...”
Ao percebemos a fragilidade da vida como fonte de sensação, ficamos emocionados na grandiosidade com que nos igualamos, mesmo que diferentes nas atitudes. Nossos gestos combinam com a convicção de cada um; até mesmo as palavras, com seus significantes, se torna nossa representação quando nos revelamos por inteiro.
Encontro em Carlos Higgie, no conto Fragilidade, o acessório surpreendente da metáfora, “... Nada detinha aquele carro. //... Acelerou. A vida era bela e ele tinha o domínio dela. Pisou fundo, esquecendo num instante o passarinho suicida, o cachorro indeciso. Acelerou de novo, sentindo a força da máquina debaixo dos seus pés...”
Atitude é ato que se destaca em nossa identificação. Estarmos fragilizados é condição que representa mudança “drástica” num mundo movido pelo consumo: transformação do ser em ter, como em Alphonsus de Guimaraens Filho, “Frágil, na sua fragilidade / de sombra, por que entanto a vida / resiste agônica tal esmaecida / lâmpada na grande escuridade...”
As pessoas e a natureza, sempre estão a traduzir deslumbrantes imagens da fragilidade, como retrata Domingos Pellegrini, “o que fazem com as nuvens os ventos / o que na cama fazem os amantes / o que faz o imprevisto com o instante / o que faz a canção com os sentimentos...”