Érico Veríssimo: Para além do tempo e do vento
Está ventando muito por esses dias, repararam? Parece homenagem da natureza ao escritor Érico Veríssimo na semana que marca os 40 anos de seu falecimento. Como, em se tratando da família Veríssimo, conheço mais o trabalho do filho Luis Fernando, solicitei a uma “especialista” na obra do pai um pequeno artigo sobre este. Abaixo, então, texto escrito por Joana Rocha Guerreiro:
“Sempre que me acontece uma coisa importante, está ventando.” A frase típica de Ana Terra – uma das personagens símbolo da saga O Tempo e o Vento – vem bem a calhar: amanhã, 28 de novembro, completam-se 40 anos da morte de seu criador, o escritor gaúcho Erico Verissimo. Desde terça-feira que não para de ventar à noite. Coincidências.
O primeiro livro de Erico Verissimo que li chegou a mim completamente por acaso. Eu cursava o Ensino Fundamental e a professora de História dissertava sobre seus livros favoritos. Entre eles, Incidente em Antares, um romance fascinante escrito por Erico. Eu, que sempre adorei ler, fiquei curiosa e fui à biblioteca atrás do tal livro. A simpática senhora que cuidava do local me informou que não tinha o livro que eu queria, mas que “tem aquele ali do Erico, não sei se tu vai gostar”. Peguei emprestado sem muita esperança, mas gostei. Na verdade, é meu livro favorito até hoje, e acredito que vá encontrar poucos concorrentes. O livro que a bibliotecária me entregou – e que quase não peguei – era O Continente I, o primeiro dos sete volumes que compõem a saga O Tempo e o Vento. Alguns dias depois, descobri que existia um exemplar de Incidente em Antares na escola, mas que um aluno o retirara um dia antes que eu fosse à biblioteca. Coincidências.
Devorei este e muitos outros livros do meu autor preferido. Os romances de Erico trazem personagens do tipo que habitam a mente do leitor por muito tempo depois que a leitura é terminada. Os enredos, boa parte das vezes, levam ao sacrifício de algumas horas de sono só para que seja possível ler mais um capítulo antes da manhã seguinte. Se o escritor é o cozinheiro cujos condimentos são palavras, o tempero de Erico era como o de poucos: fatos históricos entrelaçados perfeitamente com a ficção, personagens construídos detalhe por detalhe, cenários totalmente possíveis de serem visualizados pelo leitor e o jeito de falar que prende a atenção, como é próprio dos bons contadores de histórias. Contudo, nem só de romances é feita sua obra; o primeiro livro publicado do autor foi Fantoches, coletânea de contos e peças de teatro. Erico publicou também algumas histórias infantis – entre elas, As Aventuras de Tibicuera, que é uma verdadeira e divertida aula de história do Brasil – e relatos de viagens. Seus trabalhos possuíam, além da riqueza literária, teor crítico e político (seu romance Caminhos Cruzados foi considerado subversivo à época da Ditadura Militar).
Erico Verissimo foi balconista de armazém, sócio de farmácia, professor, tradutor e, finalmente, escritor. Nos mais de 40 anos em que escreveu e publicou, presenteou a literatura brasileira com uma obra rica e ímpar, que transcende a barreira do tempo: quatro décadas após sua morte, ainda estamos falando sobre ele. Suas obras ainda são adaptadas para o teatro, cinema e televisão. Seus livros ainda são reimpressos, folheados por novas mãos, vistos por novos olhos. A força de seus personagens atravessa o tempo e eles continuam vivos, décadas e décadas após terem sido criados.
Erico partiu há quarenta anos, mas é eterno para quem o lê. A qualquer tempo.
Texto publicado na seção de Opinião do jornal Portal de Notícias, versões online e impressa: http://www.portaldenoticias.com.br
Está ventando muito por esses dias, repararam? Parece homenagem da natureza ao escritor Érico Veríssimo na semana que marca os 40 anos de seu falecimento. Como, em se tratando da família Veríssimo, conheço mais o trabalho do filho Luis Fernando, solicitei a uma “especialista” na obra do pai um pequeno artigo sobre este. Abaixo, então, texto escrito por Joana Rocha Guerreiro:
“Sempre que me acontece uma coisa importante, está ventando.” A frase típica de Ana Terra – uma das personagens símbolo da saga O Tempo e o Vento – vem bem a calhar: amanhã, 28 de novembro, completam-se 40 anos da morte de seu criador, o escritor gaúcho Erico Verissimo. Desde terça-feira que não para de ventar à noite. Coincidências.
O primeiro livro de Erico Verissimo que li chegou a mim completamente por acaso. Eu cursava o Ensino Fundamental e a professora de História dissertava sobre seus livros favoritos. Entre eles, Incidente em Antares, um romance fascinante escrito por Erico. Eu, que sempre adorei ler, fiquei curiosa e fui à biblioteca atrás do tal livro. A simpática senhora que cuidava do local me informou que não tinha o livro que eu queria, mas que “tem aquele ali do Erico, não sei se tu vai gostar”. Peguei emprestado sem muita esperança, mas gostei. Na verdade, é meu livro favorito até hoje, e acredito que vá encontrar poucos concorrentes. O livro que a bibliotecária me entregou – e que quase não peguei – era O Continente I, o primeiro dos sete volumes que compõem a saga O Tempo e o Vento. Alguns dias depois, descobri que existia um exemplar de Incidente em Antares na escola, mas que um aluno o retirara um dia antes que eu fosse à biblioteca. Coincidências.
Devorei este e muitos outros livros do meu autor preferido. Os romances de Erico trazem personagens do tipo que habitam a mente do leitor por muito tempo depois que a leitura é terminada. Os enredos, boa parte das vezes, levam ao sacrifício de algumas horas de sono só para que seja possível ler mais um capítulo antes da manhã seguinte. Se o escritor é o cozinheiro cujos condimentos são palavras, o tempero de Erico era como o de poucos: fatos históricos entrelaçados perfeitamente com a ficção, personagens construídos detalhe por detalhe, cenários totalmente possíveis de serem visualizados pelo leitor e o jeito de falar que prende a atenção, como é próprio dos bons contadores de histórias. Contudo, nem só de romances é feita sua obra; o primeiro livro publicado do autor foi Fantoches, coletânea de contos e peças de teatro. Erico publicou também algumas histórias infantis – entre elas, As Aventuras de Tibicuera, que é uma verdadeira e divertida aula de história do Brasil – e relatos de viagens. Seus trabalhos possuíam, além da riqueza literária, teor crítico e político (seu romance Caminhos Cruzados foi considerado subversivo à época da Ditadura Militar).
Erico Verissimo foi balconista de armazém, sócio de farmácia, professor, tradutor e, finalmente, escritor. Nos mais de 40 anos em que escreveu e publicou, presenteou a literatura brasileira com uma obra rica e ímpar, que transcende a barreira do tempo: quatro décadas após sua morte, ainda estamos falando sobre ele. Suas obras ainda são adaptadas para o teatro, cinema e televisão. Seus livros ainda são reimpressos, folheados por novas mãos, vistos por novos olhos. A força de seus personagens atravessa o tempo e eles continuam vivos, décadas e décadas após terem sido criados.
Erico partiu há quarenta anos, mas é eterno para quem o lê. A qualquer tempo.
Texto publicado na seção de Opinião do jornal Portal de Notícias, versões online e impressa: http://www.portaldenoticias.com.br