MANIFESTAÇÃO DO DIVINO?

O homem seria, então, o instrumento do Absoluto para a criação literária, dentre a qual o expoente seria o poema com boa dose de codificação verbal? Ou o Divino estaria presente em toda e qualquer manifestação da arte de dizer inerente ao homo sapiens, por ser esta a única e verdadeira fonte do fazer poético? O Absoluto seria o "Creador" da obra poética, através do humano ser: o Poeta, que teosoficamente é o criador? Se esta assertiva for tida e havida como verdade plena (não só postura filosófica), como ficam os direitos autorais sobre a peça criada? O humano ser individuado (o poeta/autor) exploraria financeiramente o que não é de seu estrito e único domínio, em sua origem “creacional”? O humano, na hora da criação artística é mais um condenado do que um deus. No entanto, mais do que verdadeiro é o colóquio: o bem e o mal habitam o homem e o seu poema. E mais: os seus descendentes poderiam arguir direitos de autor sobre a obra que não é de seu domínio integral, pois que ele tem somente a posse sobre a materialidade de seu talento exercitado? A ideia é o tapete voador da Poesia e nesse veículo tudo é beleza estética, porém o subsolo é podre como o petróleo sob a rocha. Mais do que isto cabe ao poeta/leitor o cochicho insatisfeito. Além de tudo, todo o poema é antropofágico e com uma morbidez que vai muito além do previsível. No mais, é o pensamento e a formação intelectual adquirida, acrescido do acervo sentimental do poeta/leitor, que lhe fará espelho do real ou não...

– Do livro O PAVIO DA PALAVRA, 2015.

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