O LIVRO

Em vésperas e a propósito da Feira do Livro de Pelotas, dissertávamos, eu e, meus companheiros de Academia sobre o destino do livro de papel, e quase todos eles ali à roda da mesa sentenciaram estar próximo ou a médio prazo o fim do livro de papel, em favor do livro eletrônico, ou na linguagem da informática, e-book. Eu ousei divergir embora tanto livros como jornais tenham suas edições eletrônicas paralelas, jamais hão de substituir as edições em papel.

Citando José Saramago, prémio Nobel de Literatura: “É ainda possível chorar sobre as páginas de um livro, mas não se pode derramar lágrimas sobre um disco rígido”.

“Refresca-te, irmã, na água da pequena tigela de cobre com pedacinhos de gelo, abre os olhos sob a água, lava-os, enxuga-te com a toalha áspera e lança um olhar num livro que amas. Começa assim um dia belo e útil.” Bertolt Brechet. Longe estava o invento do livro eletrônico, mas tenho certeza que se este já existisse naquele tempo, Brechet não mudaria sua maneira de sentir.

O livro é um mundo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive. Sequer, posso imaginar Pe. António Vieira assim se expressar sobre um disco rígido.

Tenho alguns livros baixados da internet no meu not book, mas, confesso que me dá um certo tédio e canseira sua leitura na fria tela; falta aquele quê de magia que sentimos no contato com o papel. Falta-lhe alma. Sim por que o livro tem alma, a alma do escritor e a alma do leitor, e quando digo que o livro tem alma falo do bom livro, e o bom livro é o que é aberto com expectativa, e fechado com deleite e aproveitamento.

Sou um amante do livro, e apaixonado das letras. “Os livros são os mais silenciosos e constantes amigos; os mais acessíveis e sábios conselheiros; e os mais pacientes professores.” Charles W. Elliot.

O livro de papel é maneável; se nos dá vontade de fecha-lo da mesma forma o podemos abrir e a qualquer momento sem ser preciso carregar-mos em botões e outros senões; é paciente, nada exige, apenas não gosta de maus tratos. O livro é bem inestimável.

Por tudo isto e o muito mais que não disse é que acredito que o livro jamais será extinto, ele faz parte da saga na grande aventura humana, registrando factos, aconselhando, e rasgando barreiras da ignorância a maior causa de tantos males, dando luz ao que antes era treva, enfim, dando mais dignidade e voz ao ser humano.

O livro, a escrita, é a grande conquista da humanidade; é a arma poderosa a quem a mesma humanidade se rende; não fere, não mata, mas dá luz iluminando caminhos, qual sol benfazejo.

Como diria Jacinto Prado Coelho: a obra literária, ao invés da palavra programática, subsiste desprendida de qualquer contexto extraverbal determinado. Sim alude, mas a alusão basta-se a si mesma...

Se todos lessem, certamente que o mundo seria bem melhor, pois o livro e conse-quentemente a cultura, são os pilares que sustentam o edifício da mente, dignificam e dão sentido à vida.

Para finalizar, como autor e leitor lamento que não se dê o incentivo devido ao livro para assim o tornar mais acessível a todas as bolsas e classes. Não se enganem os leitores, se há lucros no comércio de livros, o autor com raríssimas exceções é o que menos lucra, e muito menos são aqueles que vivem à custa dos mesmos. O escritor, é, sobretudo, um incorrigível idealista, e isto lhe basta. Com certeza.

Eduardo de Almeida Farias

Eduardo de Almeida Farias
Enviado por Eduardo de Almeida Farias em 29/10/2015
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