MOMENTO de DESPEDIDA

“...Será esta hora infinita / quando os olhos fixos contemplam /por trás das palavras descidas / uma imagem que vem de dentro?...” (Theodomiro Tostes)

Este é um dos versos do poema Canção sem Título, o último escrito por Theodomiro Tostes, um pouco antes do seu falecimento, ocorrido em 20.03.1986. Até parece que foi ontem que nos despedimos, foi uma perda e um dia marcante. É impossível imaginar que, mesmo passado 25 anos, ainda é o momento mais forte da lembrança.

Realmente o tempo passa lentamente quando olhamos para trás e percebemos aqueles tempos: grande no tamanhão e na insondável saudade, como escreveu Theodomiro, “...Será esta hora esperada? / Uma hora que já não passa / Quando as mãos sem cor cruzaram / passivamente sobre o peito / até que o frio as penetrasse?...”

Hoje sinto que em cada despedida, o momento se repete com tristeza. O mal-estar está implantado em meu interior. A memória se enche de fantasmas amigos, que os outros não veem e, no entanto, ali estão presentes com suas obras, poemas e palavras, dando a sensação dos gélidos minuanos que cortam a pele.

Reconheço o momento da despedida como algo que vai além dos sentidos. Apenas suporto a dor. A lembrança e o sentimento são maneiras para continuar com a expectativa de vida.

Certo dia, conversando sobre o momento de despedida, a imaginação exuberante me conduziu com detalhes à cena onde a realidade me mostra que, no fundo, sou solitária; mas também porque tive amor por tudo o que tivesse sabor de aventura. Tostes reflete, “...Será esta hora da estrela / pingo de luz no mar noturno / a guiar o alvor de uma vela / pelos roteiros da procura?...”

Quantas histórias escuto sobre despedidas? Quantas hipóteses e quantas versões, triste vivo? Segundo Theodomiro Tostes, “...Que o teu corpo descanse em paz / que o teu gesto repouse em paz / e que nesse olhar tão profundo / brilhe o fulgor da última estrela / na aventura do último rumo.”

Quando nem mais imaginava que me pudesse voltar a lembrança, incendiando o meu pensamento, então a história se repete e ressuscita em busca de explicações, apertando o coração. Depois dos momentos angustiantes, me encontro correndo em variados rumos, para onde instalada a verdade nua e crua. Nem tão rápido que pareça medo e nem tão devagar que pareça delírio, mais do que a sucessão (dos episódios do tempo) dos momentos de despedida, como encontro em Tostes, “... Ou quem sabe não há mais horas / no relógio que move o mundo / e o voo do tempo está parado / no frúme dos lábios mudos?...”