O Prêmio Jabuti, junto com outras renomadas premiações da literatura, deveria criar uma categoria hors-concours, a exemplo do que existia nos desfiles de fantasias de luxo do Carnaval do Rio de Janeiro. Nomes como Chico Buarque, Cristovão Tezza, dentre outros medalhões, já estão consagrados e não precisam de mais espaço para divulgação. Ao se repetirem os mesmos nomes todos os anos, os maiores concursos de literatura acabam subtraindo a chance de outros bons autores, ainda desconhecidos, ganharem visibilidade.
Ouço colegas afirmarem que não existe Mercado Editorial no Brasil, não concordo. Ele existe, apesar de precário e fundamentado em cima das vendas para setores do Governo. Um negócio que fatura bilhões não deve ser classificado como inexistente. Também contamos com um público de leitores que, mesmo indicando uma proporção capenga diante da população do Brasil, é um universo expressivo. Volta e meia testemunharmos alguns autores se vangloriarem por terem vendido milhares de livros, além de conseguirem traduções e lançamentos no exterior. As bienais se transformaram em eventos para multidões. Sim, temos leitores, porém, são mal direcionados. É como se as editoras alimentassem um monopólio de autores nacionais, aqueles que mais vendem, os que já conquistaram fama, são os eleitos para povoarem sozinhos todas as vitrines. Um erro trágico de estratégia. Ao concentrar o marketing, ao criar um funil publicitário, os grandes editores empobrecem seus catálogos e ensaiam um tiro pela culatra.
Por esses dias, numa novela ou programa de TV, uma atriz indicava o livro para o companheiro de cena. O livro era de um autor carioca que anuncia por aí ter vendido mais de 10 mil exemplares, com traduções no mundo todo. De repente, me toquei que não vemos propaganda de livros na TV, quando ela acontece, já me disseram que se deve ao fato de ser livro de algum funcionário que colabora com a emissora. Por que as editoras não investem nesse meio de divulgação? Por que as TVs abertas não democratizam o espaço para o merchandising literário e permitem que, pelo menos uma vez por semana, se divulgue um livro numa novela ou programa de boa audiência? Para concluir, por que aquele programa sobre literatura da TV a cabo não avalia de verdade as sugestões de pauta que são enviadas pelos telespectadores?
Está na hora do Mercado Editorial e das Megastores lembrarem que não trabalham somente com livros contábeis. Dedicar um pouquinho mais dos bilhões que faturam para incrementar à cultura não vai quebrar ninguém.
Infelizmente, observamos que os maiores grupos editoriais incentivam os feudos literários, concentram-se em promover um pequeno grupo de nomes. É a lógica invertida de investir em poucos para ganhar muito, um critério que não considera compartilhar o investimento em propaganda entre o maior número possível de escritores. Preferem a gestão feudal do negócio.
Revezar o lugar em cena seria uma ação nobre para autores como o Chico Buarque, Cristovão Tezza, Rubem Fonseca, Veríssimo e tantos outros que ainda não perceberam que podem contribuir para criar um número significativo de protagonistas na realidade da nossa literatura. Isso renderia bons frutos até para quem tomasse a inciativa de apadrinhar uma nova geração. Porém, nós entendemos a dificuldade de agir com generosidade e desapego. A fama é usurpadora, é faminta e quer sempre conquistar mais espaço ao invés de doá-lo aos desabrigados das Letras.
O nosso panorama literário mostra-se como um espelho do país. De um lado temos os latifundiários dos livros, vendem na casa dos milhares, ocupam os pontos mais valorizados das redes de livrarias, recebem adiantamentos das editoras, são os mais requisitados nos congressos e ganham muita grana com os derivados da atividade cultural. Do outro lado temos os sem-terra da literatura, os favelados da arte não encontram editoras que os publiquem, precisam pagar pela autopublicação, gastam dinheiro para se inscreverem em concursos e premiações, são desprezados, não conseguem nenhum espaço digno nas livrarias e não são convidados para participar das grandes festas literárias.
O Prêmio São Paulo de Literatura alega que ficou com posições abertas em 2015 porque não houve consenso sobre autores dignos da premiação. Sinceramente, soa como desaforo afirmar, diante do leque enorme de autores publicados em 2014, que o júri não conseguiu preencher as 30 vagas de finalistas. No entanto, Chico Buarque e Cristovão Tezza estão lá. Eles merecem, nem questionamos isso. Mas nesta altura da vida seria a solidariedade, não um prêmio, que justificaria a reputação que carregam. Como já alertava Sartre: O silêncio é reacionário.
Não que seja impossível romper a barreira que mantém distante o escritor anônimo da elite das Letras. Não, não é impossível. É quase impossível. Caso me peça um conselho, eu lhe citarei as palavras sábias de um milionário: “Acredite na força dos seus sonhos. Deus é justo e não colocaria em seu coração um desejo impossível de ser realizado” (Paulo Coelho).
Você está rindo? Ótimo, então captou o espirito da prosa.
Ouço colegas afirmarem que não existe Mercado Editorial no Brasil, não concordo. Ele existe, apesar de precário e fundamentado em cima das vendas para setores do Governo. Um negócio que fatura bilhões não deve ser classificado como inexistente. Também contamos com um público de leitores que, mesmo indicando uma proporção capenga diante da população do Brasil, é um universo expressivo. Volta e meia testemunharmos alguns autores se vangloriarem por terem vendido milhares de livros, além de conseguirem traduções e lançamentos no exterior. As bienais se transformaram em eventos para multidões. Sim, temos leitores, porém, são mal direcionados. É como se as editoras alimentassem um monopólio de autores nacionais, aqueles que mais vendem, os que já conquistaram fama, são os eleitos para povoarem sozinhos todas as vitrines. Um erro trágico de estratégia. Ao concentrar o marketing, ao criar um funil publicitário, os grandes editores empobrecem seus catálogos e ensaiam um tiro pela culatra.
Por esses dias, numa novela ou programa de TV, uma atriz indicava o livro para o companheiro de cena. O livro era de um autor carioca que anuncia por aí ter vendido mais de 10 mil exemplares, com traduções no mundo todo. De repente, me toquei que não vemos propaganda de livros na TV, quando ela acontece, já me disseram que se deve ao fato de ser livro de algum funcionário que colabora com a emissora. Por que as editoras não investem nesse meio de divulgação? Por que as TVs abertas não democratizam o espaço para o merchandising literário e permitem que, pelo menos uma vez por semana, se divulgue um livro numa novela ou programa de boa audiência? Para concluir, por que aquele programa sobre literatura da TV a cabo não avalia de verdade as sugestões de pauta que são enviadas pelos telespectadores?
Está na hora do Mercado Editorial e das Megastores lembrarem que não trabalham somente com livros contábeis. Dedicar um pouquinho mais dos bilhões que faturam para incrementar à cultura não vai quebrar ninguém.
Infelizmente, observamos que os maiores grupos editoriais incentivam os feudos literários, concentram-se em promover um pequeno grupo de nomes. É a lógica invertida de investir em poucos para ganhar muito, um critério que não considera compartilhar o investimento em propaganda entre o maior número possível de escritores. Preferem a gestão feudal do negócio.
Revezar o lugar em cena seria uma ação nobre para autores como o Chico Buarque, Cristovão Tezza, Rubem Fonseca, Veríssimo e tantos outros que ainda não perceberam que podem contribuir para criar um número significativo de protagonistas na realidade da nossa literatura. Isso renderia bons frutos até para quem tomasse a inciativa de apadrinhar uma nova geração. Porém, nós entendemos a dificuldade de agir com generosidade e desapego. A fama é usurpadora, é faminta e quer sempre conquistar mais espaço ao invés de doá-lo aos desabrigados das Letras.
O nosso panorama literário mostra-se como um espelho do país. De um lado temos os latifundiários dos livros, vendem na casa dos milhares, ocupam os pontos mais valorizados das redes de livrarias, recebem adiantamentos das editoras, são os mais requisitados nos congressos e ganham muita grana com os derivados da atividade cultural. Do outro lado temos os sem-terra da literatura, os favelados da arte não encontram editoras que os publiquem, precisam pagar pela autopublicação, gastam dinheiro para se inscreverem em concursos e premiações, são desprezados, não conseguem nenhum espaço digno nas livrarias e não são convidados para participar das grandes festas literárias.
O Prêmio São Paulo de Literatura alega que ficou com posições abertas em 2015 porque não houve consenso sobre autores dignos da premiação. Sinceramente, soa como desaforo afirmar, diante do leque enorme de autores publicados em 2014, que o júri não conseguiu preencher as 30 vagas de finalistas. No entanto, Chico Buarque e Cristovão Tezza estão lá. Eles merecem, nem questionamos isso. Mas nesta altura da vida seria a solidariedade, não um prêmio, que justificaria a reputação que carregam. Como já alertava Sartre: O silêncio é reacionário.
Não que seja impossível romper a barreira que mantém distante o escritor anônimo da elite das Letras. Não, não é impossível. É quase impossível. Caso me peça um conselho, eu lhe citarei as palavras sábias de um milionário: “Acredite na força dos seus sonhos. Deus é justo e não colocaria em seu coração um desejo impossível de ser realizado” (Paulo Coelho).
Você está rindo? Ótimo, então captou o espirito da prosa.