O REAL A FAVOR DO POETA
O poema nasce para recriar e transfigurar o lugar comum da vida. Quando tudo é hostil ao poeta, ele entra em preclaro estado de poesia e dá a volta por cima através da peça criada. Tudo ocorre muito rapidamente, todavia a farsa e a fantasia são efetivamente poderosas, por sua carga de estímulos. Tanto que pode ocorrer – por serem verdadeiras em seus efeitos – que nos acompanhem pela vida de cabo a rabo. E ainda poderão perviver na cabeça dos que se identificam com a sugestionalidade nelas contida para o post-mortem, quando o autor houver se transferido para o outro patamar espiritual. O mundo criado não está, a rigor, datado. Porque não há como colocar datação no que nasceu para o porvir. Ainda mais quando o presente se apresenta inóspito, sem perspectivas favoráveis, desinteressante ou em estado de beligerância afetiva... A poética nasce para ser a silhueta furtiva do real recriado. E rebrilha em todos nós tal uma sempre-viva na primavera.
– Do livro O PAVIO DA PALAVRA, 2015.
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