DA ANTÍTESE VERBAL E A INTUIÇÃO

Fazer o texto é o óbvio... Enfim, a gente escreve tudo o que vem na cuca, sem maiores compromissos além de nós, que não a compulsão do criar, assentado na experimentação e valores estéticos. O difícil está em obter bons e lúcidos leitores que nos provoquem até o ato de conceber – e recriar, por vezes – sem fazer concessões intimistas, e sim porque as antíteses propostas induzem ao desafio. O que complica é quando o poeta-leitor introjeta o nosso texto e chega à elaboração do INTERTEXTO. Pois, quando este sobrevém, o autor/analista fica, de certo modo, impedido de criticar mais profundamente a peça. Aquele que intertextualiza não aborda aquilo que é de sua lavratura, e sim o que decorre do texto incidente na sua sensibilidade, como agente envolvido com a leitura e a reflexão. O que fazer, se este é o resultado sugerido pela codificação dos signos verbais? Estamos frente ao universo do poeta-leitor e o enfrentamento momentâneo (e surpreendente) dos efeitos do ato de leitura sobre este: a palavra viva e candente do outro polo da relação que nasce à revelia do criador original, quando do processo intuitivo, em Poesia. O espiritual – compulsivo – libera-se pela inspiração, um bólido que passa – fogoso flete que surta, lépido, e escarceia. E logo depois estanca, esfalfado pelos cansaços de tanto ver os outros animais (do trivial) pastando mansos, e que não despertam o aval do ambiente ou já cumpriram seus matizes de palavra. Neste momento, o que está posto no campo é desinteressante de pelagem e duro de boca – não chama a atenção do humano espectador – pois não desperta o espanto que a Beleza conflui. Em regra, o animalzinho ao léu não tem a estampa ardilosa de poema com Poesia. Aqui jaz o mistério indistinto de vocábulo e seus espelhos...

– Do livro O PAVIO DA PALAVRA, 2015.

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