A VIRILIDADE DO POEMA

A metáfora formadora da linguagem em Poesia – por ser subversão verbal do sentido original do vocábulo – é palavra em sua vestimenta de gala, festa para bailar a alma aflita, necessitada de paz interior e de sonhos para enfrentar o dia seguinte. Enfim, o passeio pelos páramos espirituais merece todo o requinte estético. Desta forma se poderá identificar a sombra do sol placentário sobre a cabeça dos condenados ao verso e ao permanente amor sem libido, num ato dual, complexo, bafejado de intuição e de inteligência cognitiva. Esse é o tal mistério daquilo que não é contido somente nos estritos limites da dimensão corpórea e naturalmente possessiva. E nos assusta enquanto poeta ingênuo, inocente: os neurônios dos alter egos não copulam da mesma forma jeitosa e humana que o emissor autoral da peça. Não se trata apenas do “fogo que arde sem se ver”, como disse Camões, nem dele necessariamente decorre. É o humanamente antropofágico. Neste o corpo dá o melhor de si, fruindo o néctar do prazer, e, em regra exaure-se nele em pele de mútuos cansaços. Todavia, no poético, o gozo é mais intenso e altamente prazeroso. Renova-se a cada instante em que o neuronal se atiça. Que sejas bem-vindo à virilidade do poema...

– Do livro O PAVIO DA PALAVRA, 2015.

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