A INTERPRETAÇÃO DA PEÇA POÉTICA

A vantagem da interpretação do texto, força de se abrir a sua codificação verbal, é que cada pessoa tem seu entendimento, concebe o seu pensar e explicita (ou não) este interpretar segundo como o concebe. O REAL é sempre aquilo que está neste plano terreno, e em regra, se o pode apalpar, tocar, sentir, enfim, tudo o que é tangível aos sentidos. O ser humano é do campo da plena realidade, no entanto, sua personalidade pertence a outra codificação: o campo psicanalítico. A personalidade de alguém (e suas nuanças) não me parece ser um exemplo palpável do que temos no mundo dos fatos – que é a realidade tal como a percebemos. Mas, enfim, é o leitor que nos agracia com a reflexão sobre a proposta textual, palavra gerada pela codificação do texto. Cabe a ele entender e compreender “a pedra”, caso lhe pareça efetivamente “pedra”, como no poema “No meio do caminho”, de Drummond, lavrado e publicado em 1928. Uma pedra que não é aquela rocha do lugar comum da vida, em sua materialidade. Estamos nos domínios da interpretação cognitiva, onde cada um derrama o seu cadinho de mistérios: conhecimentos e sentires. Adentra-se ao campo dos significantes e significados. Todavia, no poema, é "pedra" muito além de um pedaço de rocha. Traduzindo para os domínios da realidade: talvez a "pedra" que nos instiga ao pensar com personalidade definida. A interpretação do receptor é também digital individuada – única – tal como ocorre com o emissor original. Ambos conceptos próprios e peculiares. E daí decorre a transfiguração do real, o misterioso universo da arte da cognição e do sentir: a nau das descobertas...

– Do livro OFICINA DO VERSO, 2015.

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