PRIVACIDADE: ON ou OFF
“Resta / único segredo / Não saber / Que todos conhecem / Nossos segredos". (Pedro Du Bois)
Existe privacidade atualmente? Pergunto por que é cada vez mais comum as pessoas contarem seus segredos e intimidades nas redes sociais? Chego a pensar que a privacidade se tornou valor ultrapassado, por que em tempo integral são postados as dores, alegrias, opiniões, fatos e fotos da vida pessoal, sem constrangimento. “Acabou o off escondido; agora é tudo on”.
Na visão de Carmen Presotto, A diferença de outros tempos, é agora ter o aval social para reinar entre a tantos “chats”, pois se quebrou a barreira do tempo e do espaço para se chegar ao intransponível. “Hoje sem esforço ou cerimônia, qualquer um, a qualquer hora, pode me encontrar em casa, estatelada em frente ao elefante branco”. A minha maior inquietação é a medida da exposição, no quanto e como. Em Pedro Du Bois, “... muitos habitam nossas imaginações // deles tiramos o que personalizamos de ruim ou pior // no que somos expostos”.
Reconheço que hoje as pessoas se expõem no sentido de mostrarem-se como algo a ser exibido e visto/mostrado nas telas com o objetivo de desvelar suas vidas. Acredito que nesse sentido, as pessoas nas redes sociais mudaram o significado da palavra “privacidade”, dando-lhe outro valor ao postarem em detalhes as suas vidas.
Minha dúvida é se os valores transmitidos não mais existem em resguardo próprio. Dignidade? Fidelidade? Pudor e respeito pelo próximo? Resta algum caminho ou sentido? E os momentos de intimidade que geram confiança mútua, ainda somos capazes de guardar essas experiências e as emoções em nossos corações? Ou nos sentimos tão sós que necessitamos compartilhar nossa vida íntima nas redes sociais? Mas, o que lucramos e o que perdemos? Oscar Wilde escreveu que “Vivemos num tempo em que as coisas / desnecessárias são as nossas únicas / necessidades. // Hoje, sabemos o preço de tudo e o / valor de nada”.
Penso nisso e tenho a preocupação com as atitudes das pessoas, com a segurança da família e com a ilusão de ser real a mentira confundindo a verdade. Tudo acontece muito rápido e não temos como nos arrepender disto ou daquilo, que não há como voltar atrás. Tudo funciona como extensão da mente, quando os momentos de plenitude parecem estar certos e, ao mesmo tempo, pode acontecer o de eles estarem errados e distantes – parece ser apenas uma chance para teclarem o que desejam transmitir, fazendo de conta que têm o controle da situação, como bem descreve Gilberto Cunha, “Não é de hoje que se fala muita “merda”. Mas parece que essa característica da sociedade contemporânea, indiscutivelmente, se acentuou com a democratização do acesso aos veículos de comunicação (com destaque para a Internet)...”
Na era da informação o bom é ter cuidado no diferenciar a ficção da realidade; a verdade da mentira, que se misturam e muitas vezes invertem a situação de acordo com os interesses pessoais. Ter consciência sobre o que transmitir nas redes, porque o destino é desconhecido e não há como controlar o que é postado. Considerar autenticidade e transparência como valores importantes. Ter visão crítica do conteúdo que recebemos e perceber quais relacionamentos estabelecidos são superficiais. Além disso, a vivência “virtual” é um passatempo, na qual nem sempre podemos acreditar no que/quem estamos conectados. Não esqueçamos que “nem tudo que reluz é ouro”. Elbanice Vargas revela, “Criam-se situações pelo fato de terceiros invadirem a privacidade alheia com o intuito de interferir”.
É interessante descobrir o que somos capazes de carregar para nos fortalecer. O fato é decidir o que realmente importa na nossa privacidade, on ou off? Então, poderemos perceber uma nova maneira de ver a vida e rever os princípios no manter a coerência entre os discursos e as atitudes. Ainda existem valores para serem preservados.
A privacidade não tem bula, nem manual de instrução, apenas o desejo de tê-la ou não e querê-la on ou off nas telas da vida.