TECLAR A CONTEMPORANEIDADE?

Que caneta, que lápis, meus queridos poetas! “Caneta na mão” é hoje, no meu caso, expressão do lirismo antigo, quase folclórico, para uso em algum verso saudosista. Tal como, metaforicamente, em "... e está feita a garatuja...". Na criação literária cotidiana e compulsiva, há mais de sete anos deixei de usar lápis ou caneta. Escrevo direto em word, no computador, daí que me beneficio dos recursos que o programa oferece, fazendo emendas aditivas, supressivas ou modificativas nas palavras e/ou de uma vez só, nas estrofes que compõem a peça poética. Também pela correção automática e dicionário eletrônico à mão, etc. Assim, o poema muda de cara com facilidade, mas posso (caso queira) deixar intata a primeira versão, aquela nascida da "inspiração ou espontaneidade", para que possa comparar o quanto ele mudou desde a concepção original. Às vezes, quando publico na modalidade "ensaios", no Recanto das Letras, divulgo todas as versões que sofreu o escrito original até chegar à fórmula definitiva, ou quase derradeira. Pra mim, o POEMA NUNCA ESTÁ PRONTO, porque é matéria viva, sempre em movimento, em ebulição. Afinal, o poema se completa na cuca do poeta-leitor. Em verdade, não tenho domínio sobre ele, que é do mundo da imagética, perfazendo o sonho, a farsa, a fantasia. Quando muito, tenho a sua trajetória dentro de mim e o resultado prático são apenas os direitos autorais. Perviverá ou não nos territórios do seu receptor. Todavia, ele me habita por confraternidade. São insólitos os mistérios da Arte – aquela que nunca se tem nem se entrega por inteiro...

– Do livro OFICINA DO VERSO, 2015.

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