O AMOR SEM LIBIDO

O mistério da comunicação interpessoal nos aproxima e a Poesia passa a se traduzir como linguagem usual. Isto é um fato comum entre poetas, especialmente nas redes sociais. Logo surgem os elogios pessoais e loas sobre os poemas e prosas. Procuro redarguir de pronto que não habita em mim a genialidade – como alguns referem, generosamente. O que tenho, há muitos anos, é a pertinácia de continuar tentando aprender mais e mais sobre este desafio: a palavra poética e seus entornos. Ou seja, a intuição e manipulação dos signos de viver, para que ela chegue ao leitor em linguagem aprazível aos sentidos, compreensível aos olhos e ouvidos do poeta-leitor. É bem assim o processo: a Poesia congemina ao interlocutor e passamos a nos entender por osmose – além da epiderme. Idealizamos uma linguagem universal, aquela em que inexiste a barreira dos signos e idioma, porque o sentir, na dimensão humana, é universal. Claro, é necessário que entendamos um pouquinho sobre a língua em que o poema se apresenta. É de se ressaltar que se percebe logo haver diferença de patamares em cada universo individual. Mas a verdade última é que pensamos similarmente: FRATERNAMO-NOS pelo exercício poético. Voltamos a nos unir pelo cordão umbilical simbiótico de nossa humana raiz. Pela criação literária, praticamos o ato de amor sem libido, pelo qual nos tornamos unos. Certamente, são os inexplicáveis fetiches do Absoluto...

– Do livro OFICINA DO VERSO, 2015.

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