ALGO DEFINITIVO EM POÉTICA?

Em arte poética, o importante é a diversificação de conceitos e opiniões sobre este universo rico em incompletudes e/ou contradições e no qual o poema surgido não é, em verdade, a derradeira concepção em palavras ou formato. No criar, está-se a lidar com a transfiguração da matéria da vida, da realidade vista através do mistério dos signos e da proposta de sugestão que eles contêm. Em Poética, no rigor técnico e filosófico, o “definitivo” inexiste. O que logramos obter é somente o momentâneo aqui e agora, aquilo que se antevê ansiosamente no futuro é a verdade possível e desejada – o Belo tornando o fato suportável. Também a expectativa de que a temática e o desenvolvimento do assunto sejam bem aceitos pelo receptor que se lambuza de Poesia. Espera-se que a peça poética oferecida seja bem entendida e até compreendida, com potência capaz de gerar a reflexão que se poderá caldear em imagem – um novo estado de espírito – subversão do que está comumente posto nos mundo dos fatos, com força e veracidade para construir-se o Novo. O que dizer-se, então, quanto ao texto apresentado por terceiro, e que é eivado de conceptos de sua (dele) ótica de criação e de visões pessoais, focando como este outro criador concebe o mundo real, seus entornos e a oriunda criação? É este o reino da farsa e da fantasia capaz de ser criado e recriado no universo das vontades intimistas e fixado pelo mistério da Palavra que está sempre dentro de nós. Bom sinal de que o mundo não é apenas o que parece, e sim o que dele fazemos a nosso favor e gozo. Desta sorte, a matéria verbal tida como lapidar somente será definitiva após a morte do autor da peça escritural, visto que este, em vida, pode modifica-la a qualquer momento. Vale também o talento do terceiro estudioso da obra em voga, que se faz competente para migrar com ela a outros universos de verdade e humanidade...

– Do livro OFICINA DO VERSO, 2015.

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