RIVIERA A LA SERGIPANA. “C’est de la Merde”!

Ao sabor da doce aventura de sobreviver, levei ao Siqueira Campos um lote de mobiliário a ser desovado com auxílio duma loja de usados. A mistura de sol e chuva transformava a tarde na atmosfera ideal para fazer germinar a inesgotável neurose da fauna urbana que veste roupas.

No cruzamento das ruas Bahia e Mariano Salmeron lá estava eu, torcendo pro sinal verde me deixar enfiar a cabeça mundo adentro, na luta pra ajeitar um cantinho onde cair morto. O estridente som de buzina - CNT (Código Nacional de Trânsito/Artigo 227) - me fez voltar ao mundo dos ditos racionais.

Do carro que parou ao meu lado, uma lambisgoia fantasiada de loira gesticulava histericamente ao exibir suas saltadas jugulares: “você bateu no meu carro com esse negócio aí. Sou dona de oficina, você vai pagar agora. Vá na frente que digo onde é”.

Imagine se uma coisa dessas tivesse nascido loiríssima como Brigitte Bardot!

Conferi a fuselagem do bólido conduzido pela dona do mundo e percebi que havia uma tênue marca, na cor verde, igual a da carreta rodoviária (“esse negócio aí”) que vinha atrelada a reboque. Nada que um polimento não resolvesse.

Com pisca-alerta ligado - CNT/Artigo 251 - ela buzinava freneticamente, me tangendo como se fora eu o último garanhão que se evadiria na primeira chance.

Por fim chegamos à Riviera Auto Center/Automotive Quality Sevice - Rua Bahia, nº 56. De cara percebi estar diante de uma arapuca. A língua francesa fundira-se à inglesa...

Estavam assim ruídos os dogmas da Revolução Francesa: Liberté; Égalité; Fraternité, pelos quais tantos regaram a terra com sangue, suor e lágrimas. O nome correto, coerente, seria "Garage de la Riviera. Quem não sabe rezar xinga a Deus!

Carros amontoados sobre a calçada - CNT/Artigo181 - obrigavam pedestres a dividirem a rua com o pesado tráfego. Tenho fotos...

Fui acomodado numa sala forno onde esperei uma eternidade até a mocinha reaparecer trazendo consigo um fazedor de orçamento. Apresentei-me como Ronald. Nada responderam... Sugiro que escolham um nome e façam o batistério. É gratuito e dispensa nome do pai.

Aos berros ela repetia: “você vai pagar agora”. Num piscar de olhos a calculadora do vassalo vomitou o valor de quinhentos reais.

Ela me sugeriu usar o seguro. A carreta não é parte segurada, portanto não estaria contemplada. Insistindo, disse bastar responsabilizar o TWINGO, mesmo sendo a cor verde diferente da cor prata do carro: “a gente dá um jeito”, disse ela.

Percebi que a lambisgoia é chegada a pequenos trambiques...

Paguei trezentos, pedi nota fiscal, ou recibo. Torceram a boca, me deram as costas. Fiquei falando sozinho...

Voltei ao local do crime. Segundo testemunhas, o Peugeot NVJ 83-30 há muito estava estacionado em local proibido: no lado esquerdo na Rua Bahia (bradesco) - CNT/Artigo 181. Ao sair, não atentou para a carreta que vinha a reboque.

O nome da protagonista - Aline Alves dos Santos - foi revelado por equipe de espiões contratada para o caso.

A receita pra cagar bonito é comer sete dias só de beterraba: “C’est la merde de couler betterave”.

Ronald Cabral Simas - Publicitário, e Quase Jornalista (mais informações com a UNIT).

Ronald Cabral Simas
Enviado por Ronald Cabral Simas em 17/07/2015
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