O ESTADO DE SER FELIZ

Voltando ao fadário original, falando sobre a Poesia e seus entornos. A rigor, não busco a fama e nem o sucesso, não gosto da tal "mosquinha azul", como se diz por ali e acolá. Escrevo por compulsão, como forma de continuar vivo e ativo, aos quase setenta, e ir morrendo aos pouquinhos, um tiquinho a cada dia, em direção ao inexorável pó e ao sal da terra, a que todos chegaremos. Deixo a visão sobre o mundo que me engole e o que posso ver e/ou antever. Porque cabe ao poeta-autor estar além de seu tempo, reconstruindo-o em todos os possíveis momentos, para que possa vir a ser feliz e dividir com todos, em especial aos poetas-leitores este estado de felicidade e de entrega ao semelhante. Muitos redarguirão que o dinheiro é que lhes trará tal estado de bonomia e prazer. A mim, conforta e traz bem-estar a confraternidade – o ser fraterno com o outro – que percebo na Poesia e no associativismo literário. Cada qual com seu cada qual de entrega e dedicação. Enquanto aqueles que “têm” são enterrados à revelia de seus alforjes de dinheiro, pela condenação à Poesia assisto ao “formidável enterro de minha última quimera”, como plasmou Augusto dos Anjos, também criador de versos. E já vão mais de 100 anos que suas líricas quimeras vicejam na garganta de muitos, à busca da felicidade haurida na Poesia. O sonho, a farsa e a fantasia produzem, talvez, a única utopia plausível...

– Do livro OFICINA DO VERSO, 2015.

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