PENSAR DÓI, E MUITO...

Não existe, a rigor, crítica "negativa", como algumas pessoas definem a opinião de terceiro entendido no ofício, a qual não se ajusta ao que o criador da peça espera sobre ela, quanto ao conteúdo ou valor estético. A coisa é muito simples: é apenas outro olhar, que não o da costumeira possessão do autor sobre o seu texto e a sempre louvação correlata. Em regra, especialmente nos diletantes possuidores de alta autoestima, a abordagem crítica aparentemente desairosa ao texto ou poema é recebida como fora um soco no estômago. Nestes domínios, nada é mais intimista do que o olhar autoral do poeta, em sua obra prenhe de intuição, na qual tudo nasce da fonte emocional, não passando pelo processo racional, no primeiro momento de criação, o da “inspiração”. É bem frequente – no processo inicial da confecção dos poemas – que o poeta em formação relate os seus sucessos e insucessos nos jogos do amar, trazendo detalhes tidos e havidos no plano da realidade ao território da ficção poética, derramando-se em considerações e detalhes, negando a Poesia como o gênero da palavra codificada, meramente sugestão metafórica e imagética, sempre econômica de versos, palavras, símbolos gráficos. A maioria dos iniciantes parece entender – num juízo afoito e egocêntrico – que o esforço analítico invade a sua privacidade como pessoa e, com este entendimento, nega e proscreve tal colaboração. Com este proceder errôneo – coisa de neófito diletante – atrasa o seu ingresso no universo literário. É muito comum acontecer que o “dono” do poema passe o resto de sua vida com restrições ao autor do trabalho crítico, caso não venha a se aprimorar nas artes literárias, a ponto de perceber que as antíteses analíticas sobre o texto são a única maneira de conseguir vencer o excesso de autoestima, particularmente em Poesia. Com o auxílio da crítica ganham o autor e o leitor. A obra que pretende ganhar mundo nunca tem avaliações à boca pequena. A rigor, a crítica não são pedras no caminho, e sim flores a serem descobertas entre as ramagens... Quanto ao mais, só o tempo e os seus juízos consolidados.

– Do livro OFICINA DO VERSO, 2015.

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