Profissão: Escritor
Luciana Carrero
É passatempo para uns. Para outros é trabalho. O escritor tem de ser seu próprio empresário e saber procurar remuneração para sua arte. É o mesmo que qualquer autônomo. Isto não impede que aja no sentido de negociar e ser profissional. O campo é vasto. Mas tem que batalhar. Se conseguir tirar ou não seu sustento da arte, o problema é outro. Não deixará de ser escritor. Eu posso ter hectares de aimpim para vender, mas se não buscar mercado, não me sustento vendendo aimpim. E se conseguir ganhar, posso contribuir para a Previdência. como todo o autônomo pode fazer, seja vendendo aipim ou escrevendo. Ou fazendo as duas coisas ao mesmo tempo. Mas a regulamentação da profissão não pode existir e não deve existir, porque aconteceria para tirar a liberdade de escrever e difundir ideias, que é direito constitucional consagrado e inalienável em países democráticos. Vou dar um exemplo de violação de direitos humanos do trabalho: os camelôs. A camelotagem era uma defesa do desempregado que tinha dom para negociar e assim sustentava sua família. Veio o Estado e construiu um camelódromo. Mandou os camelôs lá para dentro, que se transformaram em empresários. E o governo tirou o direito de outros camelôs começarem do nada, nas ruas para buscarem seu sustento. Regulamentar a profissão do escritor será a mesma coisa que fizeram com os camelôs. Os escritores serão amordaçados dentro da lei e ninguém mais poderá exercer a profissão autônoma para buscar seu próprio espaço na literatura. E se um novo escritor aparecer, o "rapa" vai pegar, com todo o nazismo totalitarista e vai tocar fogo nos livros, como faz com os meninos que andam vendendo doces nas ruas, quebrando seus tabuleiros. E se o menino for para as drogas, como último refúgio, virará, em vez de vendedor, um traficante.