A ARTE DE FAZER EXISTIR O FIM

“... Terá fim o / delito de viver?” (Jorge Tufic)

Logo as páginas do livro estarão ocupadas pela gritante fala: FIM. O que será que a palavra fim significa? Seria não ter nada mais para alcançar, nada mais por que lutar ou para buscar por uma mudança? Ou o fim vem sempre acompanhado do novo? Ou resulta na falta de... “Todos anunciavam por ele, sofriam com sua falta.” Só para efeito de exercício, imagino que fim representa apenas uma história que terminou. Muitas vezes, quando a trama está muito complicada, o autor opta por dar um fim à sua história.

O dom das palavras e a liberdade dão vozes às pedras; fazem chover. Ao crer em tais figuras de linguagem, acredito na fantasia. Ocorre que, por definição, sempre estamos em busca da arte (de fazer e escrever) e, consequentemente, citamos e revelamos uma questão específica: as visões do mundo e suas finalidades.

Nessa vida poluída pela multiplicidade de interesses, tudo é quase sempre absurdo, mas a finalidade é soberana e tem por meta evitar o “fim”. É o contraponto necessário para dar fim ao medo, à infelicidade, às queixas, à inversão dos valores. Com nitidez, o fim apresenta argumentos para serem expostas em idéias refletidas nos poemas:

“Fim // eu vou no meu tempo, quando a hora chegar, sem barbáries químicas ou tecnológicas.” (Carlos Pessoa Rosa)

“Poderíamos ter sido o começo / fomos o fim / encerrando luzes / e amores // poderíamos ter sido o início / fomos o consumido / fechando as portas / aos que começam // dos amores nenhuma notícia / ou comentário” (Pedro Du Bois)

“Fim do mundo // o planeta vira poeira. / A terra vai acabar...” (Luiz Coronel)

“: assim / desligo calada / antes de você dizer a / palavra / - fim- / antes de lhe conceder o tempo / que faltava / antes de deixar querer / voltar / para mim”. (Márcia Maia)

Poemas são perfumes que inebriam, uma planta mágica, um feitiço. Percorrem o transcurso do tempo e dão à vida o bom desfecho: vida eterna. A poesia embrenha-se em cada alma, domina cada cabeça e se faz na percepção da pessoa. Ela não tem fim. Tem início e podemos perceber que tudo indica que a literatura está vencendo sua longa luta contra o tempo, porque tem vínculo com os diversos contextos da vida.

“Escrevo apenas: fim. Escreveria / sempre? Não sei. O poema terminou. /... escrevo no papel, .../ E nem sei porque escrevo: fim. Que fim?” (Alphonsus Guimaraens filho)

Na arte de fazer existir o fim, ele pode ser o início de nova vida, de transformação; de novo capítulo da história: fim da ditadura, início da democracia; fim da mariposa, transformada em borboleta. Para Lavoisier não há fim. “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.”