A INCURÁVEL CONDENAÇÃO

O que resta pra nós, que vivemos a ilusão de escrever e de acreditar que estamos sendo lidos? Acho que terei de diminuir a edição de livros impressos devido aos altos custos e baixa vendagem. Mas, o que fazer? O que nos dá tesão mesmo é o cheiro do papel impresso, as figuras – animais ao campo andando nas páginas com Alberto Caieiro, o pastor para quem o pensar obstrui a visão – imagens desordenadas que se movem de dentro pra fora, o escrever nele sem pejo, fazer cotas à margem para não perder o encanto, etc. Tudo isto remonta à infância do menino pobre que ficava catando descartados livros para ler à luz do candeeiro, e que permanecem vivos – ambos – pelo milagre de ainda andarmos no mundo como afetos antigos. No entanto, tristemente, também acredito que no Brasil há uma incurável falta do hábito de leitura. Aprendamos com aquilo que está aí, na estante, imóvel, à nossa espera para que possamos ativar os indolentes neurônios... Lutemos contra o ócio!

– Do livro OFICINA DO VERSO, 2014/15.

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/5203473