O CORAÇÃO DOS AMANTES

Feliz de quem consegue fixar-se num único polo afetivo para construir a sua literatura, seja na prosa ou no verso. Como tudo neste mundo, o amar também se exaure e curiosamente, enquanto vivo, tem suas próprias e diferenciadas escolhas. O problema é que a troca de afetos entre o casal de convivência duradoura, mesmo que extremada de carinhos, dificilmente produz versos com Poesia, e, sim, meras confidências amorosas – CONFESSIONALISMO – que não chegam a se formatar como versos, por não perfazerem requisitos estético-formais caracterizadores da Poesia como gênero literário. No entanto, os versos usualmente são tão doces e fervorosos que parecem se revestir de Poesia, os quais, enfim, podem até vir a comover o leitor. No mais, quando se escreve poemas e prosas lírico-amorosas, não se chega a ter um destinatário específico, mesmo que se pretenda individuá-lo. Todo o leitor que se sentir tocado virá a se apossar dele. Lembro-me dos magníficos versos do francês Paul Géraldy, que trouxe ao mundo o seu "Toi et moi", publicado em 1912, poesia íntima e emotiva de inolvidável beleza. Assim como Florbela Espanca, a poeta lusitana que morreu em 1930 aos trinta e seis anos e cujo lirismo vem conquistando gerações. Sinal de que no humano ser o amar tem várias faces e um único destino: o coração anárquico dos que se entregam ao sentir. Mercê das incompreensões e litígios domiciliares nos quintais de casa e nas alcovas. E é de se destacar que a Poesia resulta como um dos seus legados mais primorosos. Lembremos Vinicius, em seu Soneto de Fidelidade. “Que não seja imortal, posto que é chama/ Mas que seja infinito enquanto dure.”.

– Do livro POESIA DE ALCOVA, 2014/15.

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