O SUICIDA

“Não restará na noite uma estrela. / Não restará a noite. / Morrerei, e comigo a soma / do intolerável universo. / ... Apagarei a acumulação do passado. / Transformarei em pó a história, em pó o pó. / Estou virando o último poente. / Ouço o último pássaro. / Deixo o nada a ninguém”; Jorge Luís Borges mostra no poema que a vida é passagem sem retorno, mas que, acima de tudo, carregamos a angústia e o temor à ela, sem esperanças; que apenas lutamos contra o tempo e nos escondemos no âmago do desespero. Nas palavras de Pedro Du Bois, “...o grito antecede / ao silêncio / onde a vida / estanque / mede o compasso / e desenha em ares / outros tempos.”

Onde está a vida que se renova e acaba em agonia? Um impulso poderoso deixa apenas o silêncio... Onde flores não são entregues e morrem, pássaros interrompem seus voos e eu fico diante da porta fechada, comandando a morte na incerteza do grito; para Carlos P. Rosa, “...criamos a fantasia da imortalidade. Logo, se alguém dela foge, com certeza está fugindo da vida. O equilíbrio entre o viver e a angústia da morte...suicidas, determinará os limites do indivíduo. Repensar a vida passa obrigatoriamente pelo repensar a morte.”

Tenho a música de Tom Jobim e Vinícius de Morais, que reflete meus sentimentos: “Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim /... Não há você sem mim / Eu não existo sem você...”. O meu amor se fere e se perde diante do que traz escondido. Fugitivo de si, insatisfeito com o voo sonhado, distorce a imagem e despedaça os sonhos. Sem acreditar no sentimento, creio que o mundo é melhor sem ele, como em Antônio Cícero “... Seu fastio / é enorme: despreza a vida e a gravidade/ com que a encaram. Pondera o suicídio / e se sente mais leve...”.

Suspiro sua ausência e me calo em ecos de pesadelos, que irrompem em mim para dizer que o nosso amor é intenso. Agora, preciso do silêncio para ver as luzes do amanhã, de tantas cores que um dia foi... O homem, companheiro, meu grande amor, que me dá notícias inexistentes para nos equipararmos aos que admiramos, drenando nossas forças, como no poema de Pedro Du Bois: “O tempo findo / a morte / é socorro /... a morte entalha caminhos / e nos carrega em lembranças //... na falta que fazemos...”

Não deixo que a dor e o medo mostrem a face oculta do segredo e na ausência ouço a sua voz, misteriosamente trazida pelo vento. Preciso enfrentar, porque a ilusão de pensar passa quando você se une à morte. No entanto, palavras vêm ao meu pensamento: saudade e melancolia – tão grande é a dor que não posso viver.