PORTAS ABERTAS AO DIÁLOGO

Continuo a repetir com ênfase: a causa cultural, em particular a literária, é nobilíssima, mesmo que muito penosa. É necessário que os envolvidos no esforço do ativismo estejam unidos. O Absoluto sabe a quem prestigiar com bons desígnios e eflúvios. O ativista cultural é um privilegiado Dele e dos pequenos deuses de convivência, por isso está sendo testado em todo momento. Há pessoas que sequer conseguem perceber as pedras dispostas no caminho, o que fará vir a afastá-las... Um grande país se faz com homens e livros, dizia Monteiro Lobato. Sim, me parece que a incisiva frase contém verdades. Porém há aqueles que mesmo tendo comprado livros, pouco os abrem. São os que invariavelmente mergulham no sumidouro ao simples pensar em levantar as ditas pedras. O fruto nunca cai longe do pé... Há pessoas que acham que fazer política cultural é apenas o "savoir faire" do pensar. Fico com o padre António Vieira, no Sermão da Sexagésima, no mais puro sentido conceitual e axiológico: "Palavras sem atos são tiros sem balas.". Se bem que a fuga ao embate direto mantém portas abertas ao diálogo. Não é absurdo esperar que o fruto amadureça até cair ao solo. Então, para alguns, é a hora de apanhá-lo antes que apodreça.

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014/15.

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