Modernidade_Giddens e as consequencias da

GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade; tradução Raul Fiker. São Paulo: Editora Unesp. 1991. (Biblioteca básica)

Para conseguir explicar a visão de Giddens sobre a globalização será necessário examinar suas ideias sobre o processo de modernização. Isto acontece por culpa da sua crença de que as sementes da globalização são plantadas pelos processos de modernização.

Giddens não concebe a modernização como representante do começo de uma nova era ou sequer época da humanidade.

Para Giddens a globalização é uma continuação de tendências postas em movimento pelo processo de modernização que teve início na Europa do século XVIII. A modernização substituiu as formas de sociedades tradicionais que eram baseadas na agricultura.

Giddens sugere que o processo de modernização influiu em quatro grandes grupos de “complexos institucionais da modernidade”.

Estes quatro que formam a base do processo de modernização. Eles são: Poder administrativo, poder militar, capitalismo e industrialização.

O poder administrativo se refere ao crescimento e ao desenvolvimento da nação-estado secular, esta nova forma de estado é baseado em formas burocráticas e racionais de administração de sua população, lei e ordem. Tal “Racionalização administrativa” permite, como diria Giddens, o desenvolvimento de um estado envolvido na sua sobrevivência e na de outros, populações até então desconhecidas.

O capitalismo e a industrialização então representam as novas formas de produção baseadas e centradas na produção fabrico-industrial. Igualmente às novas formas de cálculo econômico como o lucro, ela se tornou dominante na economia moderna, substituindo as formas tradicionais de produção baseadas primariamente na agricultura.

Finalmente, o militarismo baseado na tecnologia e exércitos profissionais das sociedades modernas. Esta industrialização bélica permitiu aos estados modernos a satisfatoriamente encontrar e conquistar as sociedades tribais e impérios absolutistas.

A teoria de Giddens é tanto dinâmica quanto é histórica. Giddens usa a ideia de uma dialética com a qual expressa esse dinamismo. Para a maior parte da sua aproximação dialética está centrada sobre o seu conceito de “Desencaixe do espaço-tempo”. Esse é o conceito central o qual Giddens usa para explicar tanto o movimento histórico de sociedades tradicionais a modernas e o papel desempenhado pela globalização na aceleração do movimento começado com o processo de modernização.

Modernidade, tempo e espaço.

As sociedades tradicionais ou pré-modernas são tidas como baseadas sobre relações sociais as quais são encaixadas no tempo e espaço. Isto acontece pela proximidade que o trabalhador tem da natureza, por causa da sua confiança na agricultura como meio de subsistência, então por isso o senso temporal do trabalhador geralmente é baseado em estações. O tempo para este trabalhador é cíclico (baseado em estações) e local.

Igualmente, o status de tal trabalhador é inerte: isto é, dado ao nascimento com poucas noções do que nós modernos chamamos de “carreira” e “ascensão social”.

Os tempos pré modernos são marcados pela maioridade da população vivendo em pequenas vilas. Para a maioria da população, o senso de espaço seja geográfico ou mais importante, social, era estreito. Muitos vilões eram banidos, pelos senhores feudais, de andarem através das redondezas de suas comunidades particulares. Neste sentido nós devemos sugerir que, para tais populações, as ideias de espaço eram fixas. Giddens sugere que nós deveríamos descrever tais trabalhadores como encaixados em suas comunidades locais.

Giddens aponta para a invenção do relógio como um marco importante para a transição das sociedades tradicionais para as modernas. O relógio não é baseado no tempo sazonal, mas num tempo social e artificial. Esta noção de tempo é linear e não cíclica e portanto pode ser usada para previsões. Igualmente, o relógio permite uma medida de tempo universal e não, como era o caso, de noções tradicionais de tempo, para uma definição um tanto rústica. Tal noção moderna de tempo ajuda a produzir um sentimento entre os indivíduos de que o mundo está encolhendo. As distâncias passaram a diminuir a partir do momento que as comunidades começaram a calibrar seu senso de tempo com o de outra comunidade do outro lado do globo.

O processo de modernização “distanciou” os indivíduos e as comunidades das sociedades tradicionais destas noções estreitas de tempo, espaço e status. A modernização “desencaixou” o indivíduo feudal de sua identidade fixa no tempo e no espaço.

Resumindo, Giddens diz que a modernização e a modernidade são baseadas em um processo, segundo o qual uma ideia fixa e estreita de “lugar” e “espaço” (que prevalece nos tempos modernos) são gradualmente destruídas por um cada vez maior conceito de “tempo universal”. Giddens descreve isso como uma chave para o processo de desencaixe.

Giddens sugere que existem dois tipos de mecanismos de desencaixe: Fichas simbólicas e Sistemas Peritos. O dinheiro é o seu exemplo favorito do primeiro caso. As comunidades feudais e tradicionais foram marcadas pelos mercados e feiras locais. Entretanto, em muitos casos esses mercados eram um suplemento para a atividade essencial e básica de autossuficiência do trabalhador caseiro, o qual produzia seus próprios meios de subsistência da agricultura depois de terem pago o aluguel ao senhor feudal.

O dinheiro tinha um valor limitado para tais artesões por que suas trocas econômicas eram baseadas em impressões de valores locais e particulares. A modernização destruiu tais formas e as substituiu com uma forma de trocas “universal”: o dinheiro. O dinheiro passou a agir como meio de troca geral e universal, ao contrário das trocas particulares e locais entre os indivíduos. O Dinheiro foi então capaz de mover os indivíduos de contexto local a global e pode então estabelecer relações sociais através do tempo e do espaço. O dinheiro fez o mundo parecer diminuir. A globalização acelerou o processo que começou com a modernização. Se considerarmos que a modernização criou a noção de uma moeda nacional que varreu todas as diferenças locais dentro de uma fronteira nacional, podemos afirmar que a globalização varreu todas as diferenças entre moedas nacionais. Testemunhe o nascimento do “Cartão de Crédito” e presencie a satisfação da Europa em gerar uma moeda local para todas as comunidades da Europa, o Euro.

Os Sistemas peritos surgem como resultado das revoluções científicas e o aumento em conhecimento técnico e o consequente aumento na especialização. Por causa da sua afirmação de suas formas de conhecimento “científica” e “universal” estes sistemas especialistas não são dependentes de um contexto e podem, a partir disso, estabelecerem relações sociais através de grandes períodos de tempo e espaço. Igualmente, enquanto esses sistemas especialistas criam seus grupos de experts e conhecimento um abismo social é criada assim como um aumento entre o profissionalismo dos praticantes e dos seus grupos de clientes.

Um bom exemplo de tais sistemas especialistas é o “Sistema médico moderno” de cuidado à saúde. Um modelo baseado nas reivindicações universais da ciência. Um modelo que se estende através do globo, com outras perspectivas de cuidados à saúde pode ser ou ridicularizado ou rotulado “alternativo”.

Os Sistemas Peritos

As sociedades modernas passaram a confiar nestes Sistemas Peritos. Mas enquanto elas fazem isso, diz Giddens, isto significa que “confiança” é, com uma certeza cada vez maior, a chave do relacionamento entre o indivíduo e esses sistemas peritos. Na verdade, bem como o Funcionalista, Talcott Parsons, Giddens sugere essa confiança como o “cimento” responsável por manter as sociedades modernas juntas. Onde confiança é, o que pessoas podem questionar, aquilo que Giddens chama de “insegurança ontológica”. Literariamente, indivíduos e grupos sociais, irão sentir uma certa insegurança no que refere à sua realidade social.

REFERÊNCIA:

GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade; tradução Raul Fiker. São Paulo: Editora Unesp. 1991. (Biblioteca básica)