(RE) VER

Na literatura infantil encontramos a bruxa perguntando, Espelho, espelho meu, existe alguém mais bonita do que eu?” Nesse contexto, o autor pretende desvendar o que há por trás das atitudes, e (re)ver no reflexo do espelho, em suas várias versões, de acordo com os sentimentos, porque nem sempre vemos o que sentimos, e o que parece ser não acontece. As palavras se movimentam com os sentidos e refletem em afazeres literários, como em Mansueto Bernardi, “Fito-me diante do espelho.../ minha face não me diz nada. / Miro-me na água corrente.../ Mas o rosto continua estranho. / Mas se me olho nos teus olhos, / logo a imagem / ilumina e vivifica / a própria sombra do ser.”

O reflexo não é encontrado no espelho, mas, ao se confrontar com suas sombras, fala por si mesmo. Cruza consigo nas atitudes pela consciência das incertezas vividas. Ao mexer com a própria imagem denuncia o poder social manifestado em sua vivência e cultura quando na arte de ler; num momento de identificação, a criança traz para a sua realidade e recupera a espontaneidade, sem pressão histórica, ao encontrar o que traz dentro de si – o reflexo realizado no clarear das horas que sabe não se refletir agora, mas que se propõe como forma de percepção da realidade pelo homem ao (re)ver.

Segundo Jorge Tufic, “... Somente os grandes pintores / me fazem ver as crianças do mundo / nas sete cores do arco íris.”

O reflexo, esse jogo de espelhos na literatura infantil entre criação e obra é a sensação do momento feito para se revelar e se transformar em imagem refletida no tempo. O grande desafio, interessante, misterioso e inquietante é a busca das ideias, o que justifica a criança saborear a vida de maneira confiante e viver positivamente fazendo do reflexo neste mundo sem tempo, seu mundo imaginativo. A criação e a descoberta é a renovação, depois vem a realização. E, ao (re)ver sobre o reflexo da vida, Igor Fagundes escreveu, “A literatura é figuração, mas não há reflexo e, sim refração / instauração da realidade.”

Quem se detém na leitura, encontra vários momentos que surgem das atitudes como liberdade criadora, moldando a qualidade de vida da criança, porque a sombra é o avesso do reflexo e (re)ver não é só o itinerário da alma, mas também o reflexo do tempo – como fragmentos multicoloridos e brilhantes. Nas palavras do poeta Jorge Tufic, “... quando a inspiração se faz mais nítida no espírito e passeia com mais intensidade pela alma, colhemos o que segue...”