POESIA E A SOPA DE LETRINHAS

Esta parece ser a diferença entre POEMA COM POESIA e a PROSA POÉTICA, que, em sendo espécimes da Poética, têm codificação e apresentação formais diferenciadas. Na prosa poética, a apresentação do extrato poético é superficial, rarefeita de codificação, enquanto, na Poesia, mercê das metáforas polivalentes – portanto, profundas – há que se pensar mais para poder compreender o teor e alcance do objeto estético... E sempre foi assim no decorrer dos tempos: poema bom necessita leitor adequado; poema carente de Poesia pouco necessita de leitura e compreensão de amplo espectro. Porém, o que tem ficado nos registros de cada idioma – no decorrer dos séculos – é o poema com alta codificação linguística. Até porque quem os registram nos livros didáticos são professores cultos e lidos. E estas obras popularizam o texto e o inserem na biobibliografia de sua origem. No entanto, para o autor, é só uma simples questão de escolha: ser diletante e escrever para satisfazer o Ego construindo textos prenhes de abobrinhas e/ou tentar inscrever-se entre os que pretendem ingresso no estreito universo da Poesia caracterizadora de seu tempo de viver, no convívio com a verdade estética e seus cânones dominantes. O que vejo, na internet, vale dizer, desde que surgiram as redes sociais, é a ânsia de comunicação e de registro das mazelas pessoais de seu autor, especialmente o sucesso e as façanhas do(a) autor(a) na vertical e na horizontal, sempre louvando a(o) amada(o), como proposta de se manter junto a ela(e). Porém, a tal de Poesia, é gazela recatada. Mesmo que os nossos meninos e meninas (de todas as idades) gostem de praticar sexo sem contenções, sabem, por certo, discernir entre o bom e o mau texto prosaico e/ou poema. Poesia é sim, uma questão de linguagem e de comunicação. Um elo ligando Presente e o Futuro. Resta saber que futuro nós queremos para filhos e netos em matéria de Estética - e que sempre fará bem ao espiritual da criatura humana, des/importando a classe social. É uma questão de dosimetria, de inoculação desde a infância. O Belo é válido para indivíduos da burguesia e do proletariado, o que importa mesmo é a prática da leitura desde muito cedo. Com este manejo, teremos sempre os que lerão e entenderão a escrita codificada, e os que ruminam o samba do crioulo doido (só pra lembrar o bom samba brasílico) e/ou a sopa de letrinhas, onde a abobrinha sempre tem lugar...

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2015.

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/5128524