OS LUSÍADAS EM NOVA ROUPAGEM
OS LUSÍADAS EM NOVA ROUPAGEM
Há uns três anos ou mais, eu me aventurei a uma empresa tachada de maluca por alguns dos amigos e conhecidos mais próximos: transcrever em prosa os Lusíadas, de Camões, o maior poema da Língua portuguesa.
A tarefa foi gigantesca de fato. Afinal, é um poema enorme. São 8.816 versos decassílabos agrupados em 1.102 estrofes de oito versos, em linguagem do Século XVI, com grande número de termos já em desuso e centenas de personagens históricas e mitológicas. Mais gigantesco, porém, foi o trabalho do poeta ao tecer, em versos rigorosamente metrificados e rimados, a épica viagem e a conquista das Índias por Vasco da Gama, intercalando feitos gloriosos de ilustres antepassados lusos e alusões a fatos, lendas e personagens da história e da mitologia greco-romana.
O que me motivou a este trabalho foi o descaso a que foi relegada tão preciosa obra. Pouquíssimas pessoas a leram por inteiro. Quando muito, quatro a cinco estâncias, e isso por imposição talvez de professores que também não foram mais longe certamente que isso.
Por que o descaso? Primeiramente, pela dificuldade de compreensão imediata que qualquer poema tradicional apresenta, devido à licença poética de fugir da ordem gramatical, ou seja, transpor os termos da oração de seus devidos lugares, a fim de se conseguir métrica e cadência desejadas. Em segundo lugar, pelo que ficou dito acima: linguagem antiga com termos em desuso e a enormidade de informações históricas e mitológicas, o que obriga o leitor a constantes pesquisas em notas de rodapé.
Meu trabalho consistiu basicamente em transcrever o texto na ordem gramatical, tarefa que exige muito conhecimento de sintaxe, à qual dediquei vários meses. Para que o leitor possa fazer uma leitura comparada, apresento o texto original numa página, e o transcrito na página ao lado.
Termos em desuso, nomes históricos e mitológicos são apresentados em itálico e, entre parênteses e em caracteres menores, são comentados dentro do próprio texto, a fim de evitar as notas de rodapé.
Compensou? Poderá alguém perguntar. Se compensou! Só pelo que eu aprendi de mitologia greco-romana e da história de Portugal já valeu a pena. “Acti iucundi labores”. Os trabalhos concluídos são agradáveis, diz um provérbio latino. Sinto de fato um prazer enorme de poder, num futuro próximo, talvez, trazer a público tão importante obra de nossa língua portuguesa, em linguagem atualizada e mais compreensível, contribuindo, assim, para que ela se torne apreciada em seu devido valor.