HÁ PESSOAS E PESSOAS
“Debate com Diógenes de Araújo,
Acerca de Fernando Pessoa”
Ó Diógenes, muito me diz. Olhe, fico sabendo que o meu amigo também nasceu no meu mês, em Fevereiro. Bem-vindo à convivência da minha existencialidade. Portanto, o mês que vem é o nosso mês, não é?
Relativamente a Fernando Pessoa? Olhe, eu não sou "pessoano", pelos vistos o meu amigo é. Daí a divergência ocorrida. Se acha que ele é o protótipo da «modernidade poética» eu aconselho-o a acompanhar analiticamente o seu pensamento, sobre o assunto, de outros grandes poetas como Pascoaes e Sena, por exemplo. E depois fale-me.
Ainda, quanto a Pessoa, basta nós reflectirmos ele ter sido, por confissão dele próprio, um opiómano desde a juventude - e nunca o desmentiu (degradação da personalidade) e necessitar por isso de se esconder (alienar) atrás de uma infinidade de heterónimos. Para não irmos à forma como ele morreu...
Ele, de facto, tinha os seus momentos de "lucidez e de equilíbrio" (palavras de Jorge de Sena, que o conheceu bem) e o grande carisma dele foi «o ser diferente», como aliás era distinto na época, como sabe.
PESSOA FOI PRODUTO CABAL DA "GRANDE DEPRESSÃO", como também deve saber, e isso veio a marcar todos os movimentos da ARTE - nele e em muitos outros escritores. Portanto, quando lemos Pessoa, em todas as suas vertentes, temos que fazer a respectiva «adaptação aos contextos». Com tudo isto, não quero significar que não aprecie certos escritos pessoanos. Porém, com as respectivas reservas. E, como diz o nosso grande pensador Eduardo Lourenço, Pessoa vem no seguimento mítico da mentalidade lusa. Daí que, quanto à sua poética (dele) não nos deixemos também "mitificar"...
Quanto ao Poema que eu compus há algumas horas – POESIA SERVIDA FRIA / em contraponto com o de Álvaro de Campos, que citou - e que dediquei a si, não sei se já o leu com propriedade, apenas quero comprovar (contrariamente ao título, que é propositado) que a POESIA tem que ser «servida a quente», isto é, toda ela deve emanar de uma aura de emoção e de paixão. Só assim é que poderá servir de ponte para o entendimento.
Estou convicto que, nesta acepção, ela atingirá verdadeiramente o seu carisma humanista e a sua dinâmica personalizada. Quanto a esta questão, se ela deriva metaforicamente entre a dobrada e o pastel - de Belém ou não - para mim é irrelevante.
Reitero os meus votos de um bom fim-de-semana e aqui lhe deixo um cordial abraço do poetAmigo sempre
Frassino Machado