AS RELAÇÕES HOMOSSEXUAIS NA LITERATURA BRASILEIRA EM O ATENEU E O BOM CRIOULO: Um vínculo determinista darwinista.

Resumo: O objetivo deste artigo é discutir sobre as relações homossexuais, quando são relacionadas com o ambiente e com o comportamento do indivíduo. É o instinto sexual e o ambiente descrito em “O Ateneu” e “O Bom Crioulo” que servirá de base para uma discussão deste tema. Visto que há nestas obras do realismo-naturalismo uma nítida exploração da temática homossexual, o qual será analisado do ponto de vista determinista e darwinista, associado ao comportamento do indivíduo e sua formação de identidade.

Palavras chaves: literatura, homossexualidade, determinismo e darwinismo.

1 INTRODUÇÃO

A literatura tem sido de grande importância para estudos e pesquisas no que tange ao comportamento humano, quanto às suas relações com o meio, seja familiar, coletivo, religioso, político e social. Temas polêmicos que exploram a formação do homem na literatura brasileira encontram-se nas escolas realista e naturalista, como a homossexualidade.

Estas obras (O Ateneu e O Bom Crioulo) semelhantes a laboratórios de estudos dos autores servem de tese para ideias que entraram no Brasil entre 1868 e 1870, como o darwinismo e o naturalismo, a uma exposição dos personagens numa condição animalesca dos instintos, analisando-os analiticamente sob a ótica determinista e darwinista.

Nas obras de Raul Pompéia e Adolfo Caminha a temática homossexual masculina encontra-se algumas semelhanças, embora as narrativas sejam diferentes quanto aos ambientes, e a idade dos personagens e a classe social, e ao mesmo tempo singular, já que para as escola literárias ninguém está a “salvo”.

Seria pretensioso afirmar e determinar uma fundamentação teórica para o comportamento homossexual, neste caso, usa-se o determinismo de Taine, uma sugestão a explicar este condicionamento, com o acréscimo do darwinismo quanto à seleção natural em que os grupos e seus indivíduos, individualmente agem e reagem quanto à sua formação e aceitação da própria condição a que se encaixam.

Em ambos os livros os personagem desenvolvem seus papéis (homossexuais) conscientes de sua situação, não de forma recalcada, muito menos dramática, mais unicamente indiferente a julgamentos morais, semelhantes numa notificação de atos propícios em vínculos de amizades que cedem aos instintos e desejos sexuais.

Os vínculos de amizade e cumplicidade é outro recurso dos autores para fundamentar o cortejo dos desejos em que algumas das descrições sugerem um enamorar entre um homem e uma mulher, semelhantemente de acordo com as características psicológicas dos personagens, uma seleção natural entre o forte e o fraco.

Assim, dar-se um verdadeiro jogo de situações cruciais durante as narrativas, para uma análise imparcial de um tema atual e polêmico que gera os mais diversos pontos de vista e ainda deixa perguntas sem respostas ao abordar, homossexualidade na literatura brasileira.

2 HOMOSSEXUALIDADE: O determinismo e o darwinismo em O Ateneu e O Bom-Crioulo.

Embora em ambos, “O Ateneu e O Bom Crioulo” discorram entre as temáticas sobre a homossexualidade, o contexto em que ocorrem os fatos e a forma como acontecem são distintos, como classe social e o tipo de ambiente, ainda assim, o desenvolvimento destes relacionamentos mantém semelhanças fortes no que tange ao vinculo e tipo de relacionamento, quanto as motivações que o instigam.

O ser homossexual é relativo à afinidade ou aos atos sexuais entre indivíduos do mesmo sexo (LUFT ), é neste conceito inicial que percebe-se a relação do comportamento psicológico destes indivíduos em suas motivações de uma amizade heterossexual a um vinculo homossexual, vinculo este por ser do mesmo sexo, heterossexual na semelhança do agir, na proteção do mais forte ao mais fraco, cumplicidades de sexos opostos em pessoas de mesmo sexo, uma produção que Taine define como uma formação sujeita “pelas influência de raça, contexto histórico e de meio-ambiente.”

Analisando em “O Ateneu”, o personagem Sérgio, menino ingênuo é levado ao internado com cerca de 11 anos, já no inicio das aulas é advertido por Rabelo sobre as qualidades nefastas da escola:

Esbeiçou um lábio sarcástico para os rapazes que passavam. Aí vão as carinhas sonsas, generosa mocidade... Uns perversos! (...) Os rapazes tímidos, ingênuos, sem sangue, são brandamente impelidos para o sexo da fraqueza, são dominados festejados, pervertidos como meninas ao desamparo. (...) Olhe; um conselho faça-se forte aqui faça-se homem. Os fracos perdem-se. Não aceite protetores. (p.27 e 28).

A advertência sobre uma provável efeminação do personagem pode ser premeditada, levando em consideração o caráter e o ambiente tendencioso, pois este conviveria ali e por um “pressão” ou “imposição” de um convívio diário, provavelmente desenvolveria os mesmos vícios, semelhante em O Bom Crioulo, o jovem Aleixo, de 15 anos, raça branca, ingênuo e desconhecedor das maldades da vida como grumete, a estímulos de Amaro, homem negro, forte e mais velho,(Bom Crioulo como era chamado) em insistências e demonstrações de proteção e afeto instiga os desejos do jovem:

Por vezes tinha querido sondar o ânimo do grumete, procurando convencê-lo, estimulando-lhe o organismo; mas o pequeno fazia-se esquerdo, repelindo brandamente, com jeitos de namorada, certos carinhos do negro. Deixe disso Bom-Crioulo, porte-se sério! (p.30)

São notáveis as características naturalistas, ou seja, o romance de tese que explica o comportamento e as patologias do homem segundo o cientificismo, pois justifica que é o ambiente o responsável pela formação, outro elemento que merece ênfase é a associação de uma relação entre o forte x o fraco em que atuam papeis distintos, com uma seleção natural de sobrevivência, teoria elaborada por Darwin, o qual defende que a concorrência entre as espécies eliminaria os organismos mais fracos, permitindo à espécie inteira evoluir, graças ás heranças genéticas favoráveis dos indivíduos mais fortes e mais aptos.

Como poderia então dentro de um conceito darwinista explicar esse comportamento sexual? Nesta relação há dois sujeitos distintos do mesmo sexo que atraem-se e mantém relações, há um porém, os textos citam: os “ingênuos” “para o sexo da fraqueza”, ou seja, os “fracos” que aceitam melhor um papel de “passividade”, enquanto o “forte” é aquele que domina, protege e tem seus desejos melhores consumados pelo fato da própria natureza “corpórea” do sexo, no caso, a homossexualidade masculina desempenhada.

A sexualidade nos livros desenvolvida por um ambiente, segmentada pelo comportamento, remetem a um fato intrigante e observável aum tipo de relação que apresentada por uma tese de Dafne em A Mulher/ Os rapazes da história da sexualidade, 2008, que diz: “Se olharmos para a verdade, constatamos que a atração pelos rapazes e a atração pelas mulheres procedem de um só e mesmo Amor” (p.90). É esta atração por rapazes, semelhante a de por uma mulher movida pelo “amor”, ou a amizade no sentido de relação que veremos em O Bom-Crioulo na própria narrativa, em que o autor refere-se a Aleixo como mulher que desperta a atração de Amaro, no caso, o homem.

(...) Uma sensação de ventura infinita espalhava-se em todo o corpo. Começava a sentir no próprio sangue impulsos nunca experimentados, uma como vontade ingênua de ceder aos caprichos do negro, de abandonar-se para o que ele quisesse – uma vaga distensão dos nervos, um prurido de passividade (...) e consumou-se o delito contra a natureza. (p.30)

Em O Ateneu, Sérgio preserva-se diferentemente de Aleixo em O Bom-Crioulo, contudo, o texto é sugestivo quanto ao ambientar tendencioso, (...) “o microcosmo do Ateneu. Tudo ameaça os indefesos”. Assim, a sensibilidade aguda de Sérgio não suporta a pressão crescente do ambiente e ele passa a sentir a necessidade de ter um protetor. É na amizade com Bento Alves que vemos uma amizade protetora:

O meu bom amigo, exagerado em mostrar-se melhor, sempre receoso de um importunar-me com uma manifestação mais viva, inventava cada dia nova surpresa e agrado. Chegara ao excesso das flores (...) que deveria fazer uma namorada? Acariciei as flores muito agradecido. (p.85)

A literatura realismo-naturalismo nestas obras nos fornecem teorias necessárias para compreender relações existentes dentro da sociedade de um ponto de vista simplesmente cientifica, explorando os instintos humanos, os ambientes em que ocorrem e como os desenvolve, uma vez que Sérgio e Aleixo representam a sensibilidade ingênua do despertar sensações e os instintos num circulo de vícios de adultos, e daqueles que estão na flor da juventude. Um direcionamento dos instintos que guiam os homens, seja aonde for, sejam quais forem as consequências, a natureza humana forjando e buscando a realização daquilo intrínseco que deve ser externalizado mesmo que seja como o fragmento de O Bom-Crioulo. “E consumou-se o delito contra a natureza.”(p.30).

CONCLUSÃO

Embora a homossexualidade geralmente tenha sido associadas a dramas existenciais quanto ao o “porquê ”, é nestes livros que o tema é inovado, sugerindo ao leitor seu senso crítico – analítico, sem a defesa da causa, apenas expondo como mais um dos seguimentos dos instintos humanos que das demais inclinações não diferem. É o ser humano em análise num laboratório sendo diariamente testados seus limites dentro de suas fraquezas.

São as realidades determinista e darwinista que evitando os excessos e extremos, nos dão a possibilidade de um novo ângulo, compreender a existência humana, não para julgá-la afim de uma absolvição ou condenação, mas unicamente reconhecer que nesta vasta identidade da sociedade humana mesmo diferente e possuidora das mesmas inclinações quando se fala da natureza humana.

Portanto, são amizades e os vínculos que os unem dentro de um ambiente com as características individuais que se explora dentro da literatura brasileira, a homossexualidade masculina, determinista e darwinista.

REFERÊNCIAS:

FOUCAULT, Michel. A mulher/os rapazes: História da sexualidade; tradução de Maria Theresa da Costa Albuquerque. Rio de Janeiro: Paz e Terra,3ª Ed. 2008.

BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 2006.

MOISÉS, Massaud. A literatura brasileira através de textos. São Paulo: Cultrix, 2012.

OLIVEIRA, Clenir Bellezi de. Arte Literária: Portugal/Brasil. São Paulo: Moderna,1999

MOISÉS, Massaud. História da literatura brasileira, volume I. São Paulo: Cultrix, 2012.

Roggerio Batistta
Enviado por Roggerio Batistta em 10/01/2015
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