ALTERADO ou ALTERNADO?

Ivan Cláudio escreveu que “Para as pessoas comuns, dicionários são muitas vezes como catálogos telefônicos que só costumam ser consultados em situações de urgências”. No entanto, no meu cotidiano, manuseio com frequência o dicionário; principalmente após a consulta médica, para me certificar da diferença entre alterado e alternado.

Alternado, significa revezado. Alterado, significa modificado. Como tomar o remédio, se está escrito errado? O médico usou incorretamente o significado da palavra, alterando o modo de usar a medicação. Chego a triste conclusão de que muitas pessoas tem a pretensão de saber e não tem o conhecimento necessário. Custaria ao doutor consultar o dicionário? Pois, uma coisa é uma coisa, outra coisa é conhecer as palavras e seus significados. Segundo Fernando Sabino, “O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”.

Definitivamente é preciso alterar e deixar de escrever errado; consultar o dicionário tantas vezes quantas necessárias; é melhor se expor pedindo ajuda do que se passar por desinformado. Nos dias atuais as palavras têm adquirido conotações incorretas. Pior, a incorreção aumenta essa visibilidade entre graduados, aplicada com desatenção ao real significado das mesmas, com resultados desastrosos. Como revela Carmen Presotto, Invisíveis sons / embalam minhas palavras / até um perverso eco...”.

Desolada após receber a receita médica desastrosa e sem sentido; penso que existe a necessidade de construir sem destruir a palavra, nem ferir o seu significado. É necessário resgatar a “pesquisa” e o “conhecimento”, para ser autêntico. O diferencial é seguir as regras gramaticais. Disciplina e foco são palavras que melhor definem o processo da escrita, onde é possível romper as medidas do “arrojo” sobre a palavra no contexto, para não provocar sua própria “guerra” e, ainda, arrastar o leitor para a incompreensão ou o mal entendido. Como demonstra o poeta Lourival Batista, “... Por falta de inteligência, / gargalhamos qualquer hora, / choramos sem ter demora, / Sem ânimo, coragem e fé, / Porque todo mundo é / Palhaço que ri e chora”.

A crise na linguagem mal escrita abala o leitor e faz desmoronar o sentido da palavra, por que altera o contexto. Como vou tomar o remédio, alterando ou alternando o horário ou os comprimidos? Por que não escrever corretamente e passar para os “pacientes”, “clientes” e leitores o real significado da palavra em determinado contexto? Pois, para quem lê a receita e o texto, a notícia... A sustentabilidade não é apenas um discurso e sim a nossa vida em jogo. Todo o profissional, para ser compreendido, deve usar as palavras certas, para que seus leitores não percam a esperança na revelação da vida como projeto. Segundo Clauder Arcanjo, “... Farei meus textos com o colhido nas ruas, por entre os homens, por entre a vida, e não por entre as páginas do Latim, por entre a consulta das palavras mais difíceis no fundo dos dicionários”.

Alterado ou alternado, eis a questão. Resgatar o significado da palavra em sua conotação entendo ser a forma para recuperar a credibilidade do conteúdo na escrita, como retrata Mário Barbará, “... Sopram ventos desgarrados, carregados de saudade / viram copos, viram mundos, mas o que foi nunca mais será...”.