O POETA DO SOL POENTE
Cai a noite sobre o Recife. A azáfama diurna começa a se aquietar, mas nas vias urbanas ainda se aglomeram os veículos e se acotovelam as pessoas, disputando espaço nos ônibus lotados. Perto e distante, o Poeta contempla aquele mundo que também é seu, mas esparge a sua visão para longe, além da linha azul do horizonte, em busca de inspiração. Seleciona, em sua adega, um vinho. Escolhe aquele que melhor se adequa ao seu estado de espírito, relê o rótulo já conhecido e saca a rolha, com a perícia de uma samurai manipulando sua katana. Deixa o rubro líquido escorrer para a sua taça e, do alto da sua varanda, saboreia o aroma e o paladar do néctar dos deuses. O Pinot Noir está na temperatura adequada, assim como o frescor da lua que se desnuda.
Da sua varanda o Poeta contempla a cidade, a noite, o vinho, e num lento entorpecimento dos sentidos, deixa a sua alma leve vagar pelo tempo, pela memória, pela imaginação. Qual um Omar Kháyyam hodierno ele conjectura se pode haver algum Paraíso, onde não exista Poesia, Vinhos e Mulheres, o triunvirato perfeito! E é nesse momento, que sucede ao angelus vespertino, que Antonio Carlos Menezes lança mão da sua pena mágica, que o transporta e nos transporta a outras dimensões.
Um dos principais precursores do poetrix no Brasil, a sua lira se tornou, ao longo dos anos, cada vez mais afinada.
Possivelmente nenhum outro poetrixta consiga fortalecer, tão significativamente, os laços entre o haikai e o poetrix, quanto ele. Pois, apesar de urbano, contemporâneo, atual e nordestino, a sua contemplação do mundo, a sua capacidade de realizar a síntese final no terceiro e último verso da estrofe, os elementos com os quais trabalha – quase kigos – em muitos momentos nos deixam em dúvida: estaria ele escrevendo uma ou outra destas formas poéticas? Mas a precisão com que escolhe os seus títulos e a total liberdade com que distribui as sílabas na estrofe, elimina qualquer possibilidade de dúvida: Antonio Carlos é a perfeita síntese, o haijin poetrixta, o ninja dos versos curtos, que decepa, com sua espada, toda palavra desnecessária, até contemplar a Essência do Poema.
O Recife se apazigua. A noite cai, plena, total, serena. O tempo passa, célere. Já é quase madrugada. O Poeta depõe sua pena: as várias folhas de papel estão tingidas de versos, como a sua alma está tingida de vinho. Os poemas estão todos aqui, à nossa disposição. É bastante silenciar, e deixar o espírito evolar No Silêncio da Tarde que findou e, ao mesmo tempo, se inicia. Abra a sua garrafa, leitor, e se permita embrigar pela poesia deste fantástico autor...
Goulart Gomes, coordenador do MIP.
Cai a noite sobre o Recife. A azáfama diurna começa a se aquietar, mas nas vias urbanas ainda se aglomeram os veículos e se acotovelam as pessoas, disputando espaço nos ônibus lotados. Perto e distante, o Poeta contempla aquele mundo que também é seu, mas esparge a sua visão para longe, além da linha azul do horizonte, em busca de inspiração. Seleciona, em sua adega, um vinho. Escolhe aquele que melhor se adequa ao seu estado de espírito, relê o rótulo já conhecido e saca a rolha, com a perícia de uma samurai manipulando sua katana. Deixa o rubro líquido escorrer para a sua taça e, do alto da sua varanda, saboreia o aroma e o paladar do néctar dos deuses. O Pinot Noir está na temperatura adequada, assim como o frescor da lua que se desnuda.
Da sua varanda o Poeta contempla a cidade, a noite, o vinho, e num lento entorpecimento dos sentidos, deixa a sua alma leve vagar pelo tempo, pela memória, pela imaginação. Qual um Omar Kháyyam hodierno ele conjectura se pode haver algum Paraíso, onde não exista Poesia, Vinhos e Mulheres, o triunvirato perfeito! E é nesse momento, que sucede ao angelus vespertino, que Antonio Carlos Menezes lança mão da sua pena mágica, que o transporta e nos transporta a outras dimensões.
Um dos principais precursores do poetrix no Brasil, a sua lira se tornou, ao longo dos anos, cada vez mais afinada.
Possivelmente nenhum outro poetrixta consiga fortalecer, tão significativamente, os laços entre o haikai e o poetrix, quanto ele. Pois, apesar de urbano, contemporâneo, atual e nordestino, a sua contemplação do mundo, a sua capacidade de realizar a síntese final no terceiro e último verso da estrofe, os elementos com os quais trabalha – quase kigos – em muitos momentos nos deixam em dúvida: estaria ele escrevendo uma ou outra destas formas poéticas? Mas a precisão com que escolhe os seus títulos e a total liberdade com que distribui as sílabas na estrofe, elimina qualquer possibilidade de dúvida: Antonio Carlos é a perfeita síntese, o haijin poetrixta, o ninja dos versos curtos, que decepa, com sua espada, toda palavra desnecessária, até contemplar a Essência do Poema.
O Recife se apazigua. A noite cai, plena, total, serena. O tempo passa, célere. Já é quase madrugada. O Poeta depõe sua pena: as várias folhas de papel estão tingidas de versos, como a sua alma está tingida de vinho. Os poemas estão todos aqui, à nossa disposição. É bastante silenciar, e deixar o espírito evolar No Silêncio da Tarde que findou e, ao mesmo tempo, se inicia. Abra a sua garrafa, leitor, e se permita embrigar pela poesia deste fantástico autor...
Goulart Gomes, coordenador do MIP.