BAR: um olhar

Nilto Maciel pergunta: “você acredita em amizade?” Taveira responde, “Não só acredito como não posso viver sem meus amigos”. A vida passa no instante em que encontramos os amigos na mesa do bar. Entre músicas, palavras e os múltiplos caminhos, o bar é o limite que dá sentido para quem procura outro sentido: contar histórias e ouvir mentiras satisfeitas e insuspeitas, como a lâmina da faca dá emoção às palavras sem compromisso, como as indagações na possibilidade de esconder e desvelar segredos – causos se cruzam nos espelhos.

Quando vejo o grupo de amigos reunidos na mesa de um bar, lembro o livro de Miguel Guggiana, “Garçom, a Saideira!”, presente no olhar com que detona velhas histórias tocadas em diferentes modos e públicos. Usa do senso de humor para personificar o espelhamento das circunstâncias sociais; recria com “realismo” o ambiente, lugar da trajetória das “enganações bregas”.

No olhar lançado ao garçom, de modo persuasivo e participativo, o autor o torna mais importante do que o fato dele trabalhar no bar; ele passa a fazer parte das histórias, vivo e vivido, no escutar as histórias de todos os dias (e noites). Segundo Guggiana, “Às vezes, notava-se nos olhos o desejo de sentar-se ali, beber alguma coisa e também contar a sua....”

“Garçom, a Saideira!” está construído através das ilusões, como causas das fantasias “reais” e convincentes. Mostra ao leitor que o mundo dos encontros é, ainda e sempre, a mesa de um bar. Conta Guggiana, “Bar do Moa // Reinou como “point” da tardinha passo-fundense por bem mais de uma década... Mesas de bar, ah!... Reginaldo Rossi cantando, “garçom, aqui nessa mesa de bar...”

Com o olhar percebo quando a ficção e a realidade, uma perseguindo a outra, apresentam “os causos” aos amigos do bar, desvelando o que há de mais valioso: a imaginação intensa, irretocável e intocável irradiada de cada pessoa ao se revelar por inteiro nos encontros (e desencontros), como no texto “Os devaneios da delegada Helô na delegacia da polícia da Vila Tunda de Laço”. Sem dúvida, o autor com seu olhar descreve as diferenças individuais e sociais, como acessório, para que o leitor sinta a exaltação através do estado libertador na arte.

É bem verdade que somos todos iguais, porém diferentes, quando dizemos: Garçom, a Saideira! Nas palavras de Guggiana, “Não digo? Nunca estão satisfeitos. Por favor, querem o quê? Causos do Machado de Assis? Que ele venha aqui tomar um trago com vocês. Chega por hoje. Garçom, a saideira! Das de garrafa”; assim, em dado momento, a alegria altera as cenas do cotidiano na satisfação com que o freguês, satisfeito, espera o garçom trazer a saideira.