A Crítica Literária Ao Paraíso Perdido
RESUMO
Toda a vida, e não apenas toda a vida literária e crítica da espécie Homo sapiens/demens, começa com a rubrica a partir da qual se originou toda uma sequência de eventos que fizeram a história cultural, social, psicológica, religiosa, financeira, econômica, jurídica, das ciências humana, exatas e biológicas dessa espécie. Essa espécie condenada por seu criador ET (Deus) a viver pastando na culpa a partir da fuga e expulsão do suposto Paraíso Perdido de que nos fala o Gênesis. É a partir desse fato que se desenvolvem todos os segmentos da história e da literatura sapiens/demens. Dezenas de histórias que se repetem sucessivamente sem cessar através dos séculos e milênios, da expulsão do casal adâmico do Éden aos dias atuais. Este Artigo desenvolve uma argumentação de crítica literária inusitada, no sentido de que conclui que aquele Criador Primeiro, o ET responsável pela mutação do ADN das espécies de hominídeos que se transformaram, por seleção natural, no casal primal do Paraíso Perdido e geraram a descendência humana à qual pertencemos ainda hoje. Enquanto espécie. Aquele primeiro ET dos textos ditos sagrados, continua a escravizar a espécie sapiens/demens à qual pertencemos, e a fazê-la repetir infinitamente o intertexto de vergonha e violência (Abel assassinado por Caim, os incestos que deram origem à espécie humana), com que foram expulsos do Paraíso nossos ancestrais. Expulsos: expelidos ignominiosamente do Éden, Adão e Eva, sem direito a qualquer tipo de réplica, julgamento ou contraditório, foram assoberbados pela acusação de culpa que os persegue ainda hoje. Ou seja, aquele ato de desobediência primal, a simples dentada de Eva na maçã, gerou todas as consequências pelas quais a humanidade paga uma dívida que nunca terá fim. Através dos séculos e milênios a dívida será cobrada pela violência primal e sempre atual, que gerou a expulsão do casal adâmico do Paraíso e originou as histórias bíblicas, e a consequente literatura e crítica literárias delas derivadas. Deus, ou o ET Criador, é o banqueiro cósmico e telúrico, que cobra os juros da culpa e do medo da repressão a essa culpa ainda nos dias de hoje e “per ominia secula seculorum”. O delito e o crime primal da desobediência não seriam consequência da ignorância e da fraqueza anímicas do casal? Se foram eles, Adão, sua mulher e descendência, criados com essa finalidade, então são mesmo culpados? Ou apenas sentem-se culpados?
Bolsa de Palavras: ADN, casal adâmico, espécie Homo sapiens/demens, expulsão, Paraíso Perdido, Criador ET, culpa primal, medo primal, banqueiro cósmico e telúrico, ignorância anímica.
1. INTRODUÇÃO
1.1. BUSCA DE RELEVÂNCIA
SEMÂNTICA: SIGNIFICADO
PRIMAL
Conceitos e atitudes ancestrais estruturam o pensamento e o comportamento dos seres humanos. Os livros ditos sagrados contam a história original da espécie Homo sapiens/demens. É a partir dessa história que todas as outras histórias posteriores se desdobram e desenvolvem.
As histórias de ficção realista e científica da literatura e da crítica literária, têm na Bíblia, suas origens mais remotas. O Velho e o Novo Testamentos condicionam as atitudes concentuais e comportamentais dos povos do hemisfério ocidental, assim como dos povos de todo o mundo. Pertencemos, geográfica e geopoliticamente às mitologias ancestrais que nos explicam, enquanto seres humanos.
Enquanto seres humanos aquelas histórias primevas nos elucidam e justificam o surgimento da espécie. Da espécie Homo sapiens/demens. As histórias escritas há milhares de anos são nosso primeiro berço. O berço literário a partir do qual as mitologias e as crenças primais, através da literatura dita sacra, nos explica a gênese.
É significativa a influência original, do pecado original, em nossa cultura ocidental. Daí a relevância desse estudo e a contribuição literária deste Artigo na ampliação dos questionamentos sobre os alicerces mitológicos de nossa realidade fática na transmissão de informações pertinentes ao estímulo primal que influenciou nossas crenças e nossa comunicação interior e externa.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1. COMO A COISA COMEÇOU
A SER TEORIZADA NA GRÉCIA
Aristóteles em sua “Poética”, quando a noção de literatura inexistia, nomeou a “mimese” da vida na obra poética enquanto representação do mundo real, assim como seus efeitos nas plateias de espectadores.
Ele criou, talvez, o primeiro cânone literário profano de que se tem notícia, ao citar Homero, Sófocles, Ésquilo, Eurípedes, Aristófanes e comentar as diferenças existentes em cada obra, suscitando a lógica da classificação em gêneros.
Aristóteles, suas reflexões, não afirmou procedimento crítico, mas enfatizou a emoção enquanto elemento vital de excelência na criação dos textos. As reflexões aristotélicas se afirmaram, na cultura posterior em todos os países do ocidente, incluindo a França, onde as artes poéticas emergiram nos séculos XVI e XVII.
Crítica e poética, desde a Antiguidade latina, eram fenômenos isolados. A crítica surge com a ênfase na avaliação dos textos sobrepondo-se a qualidade gramatical da língua escrita: critério este que não ignorava o juízo formal de transmissão da cultura em sua dimensão escrita e histórica.
As duas epopeias homéricas, Ilíada e a Odisseia, se constituíam em textos históricos ou mitológicos? De caráter moral ou filosófico? Surge a ciência da interpretação de textos, hermenêutica, associada ao sentido místico e à comunicação entre cultura cósmica e cultura humana. Fílon de Alexandria havia traduzido a Torá, e o Novo Testamento legitimava a arte hermenêutica, de revelação dos sentidos do oculto: interferência da cultura extraterrena e suas influências na cultura humana: vide textos bíblicos.
Não se poderia considerar o mundo literalmente humano, sem considerar seus sentidos bíblico e espiritual, e as influências provenientes da interpretação pertinente aos textos ditos sagrados, a ascendência de uma progênie proveniente de uma cultura patriarcal fora do âmbito da Terra teria influenciado as ações coletivas de Moisés e a dos profetas do Antigo Testamento. E O Cristo Do Novo.
A hermenêutica dos textos sagrados, que deram origem às religiões, forneceu a possibilidade do estudo desses textos, ao abastecer seus leitores de um panorama cultural não do inacreditável, mas do verossímil.
Os seres da espécie Homo sapiens/demens, por si mesmos não teriam iniciativa moral de construírem um mundo regido por princípios éticos. Daí a intervenção de civilizações com inteligência avançada, no sentido de nortearem a vida humana. Impedindo-a de vivenciar sucessivos holocaustos. Tais como os narrados nos episódios bíblicos do Gênesis, que contam o extermínio dos habitantes das cidades neolíticas de Sodoma e Gomorra.
2.2. TRANSIÇÃO NO TEMPO CRONOLÓGICO
2.3. A TEORIZAÇÃO DA CRIAÇÃO LITERÁRIA
O romance no século XVII, assim como a criação teatral dessa época, foram teorizados por Charles Sorel, autor de La Vrays Histoire comique de Francion, que iniciou a crítica moderna com La Bibliothèque française e De la connaissance des bons livres. A dimensão social e histórica da produção literária desse período contou também com a publicação em 1669, da primeira crítica antropológica do gênero romance com a obra literária Lettre sur l´origine des romans de autoria de Pierre-Daniel Huet.
É preciso buscar “a origem primeira na natureza do homem inventivo, amante de novidades e de ficções, desejoso de aprender e de comunicar o que inventou e o que aprendeu, uma vez que essa inclinação é comum a todos os homens de todos os tempos e de todos os lugares”. A necessidade de uma crítica não mais baseada na concepção imutável do Belo, nem na representação exclusivamente normativa da língua, mas nos sentimentos experimentados pelo espectador ou leitor, estará na origem da crítica estética que nasce na metade do século XVIII. (ROGER, citando HUET. 2002).
É necessária certa familiaridade com a linguagem que revela os enigmas do estilo. A arte e a técnica do pensar e do escrever possuem suas leis e seus princípios. Conhecê-los permite ao escritor, autor, familiarizar-se com as janelas e passagens secretas próprias dos “larbirintos” discursivos do fazer literário. O lar da criação literária possui canais intercomunicantes com o Cosmos, com uma subjetividade que vai além das fronteiras demarcadas do conhecimento meramente humano.
O autor, presumo, que não estiver disposto a encarar as responsabilidades transcendentes implícitas no conhecimento literário, dificilmente produzirá uma obra literária com significados que ultrapassem a linha limite do bojador.
A estética literária, imagino, não enseja familiaridades ou intimidades com as doutrinas dogmáticas: sejam elas religiosas, econômicas, políticas ou de domínio da arte e da ciência. A estética literária possui compromisso com as verdades relativas às influências, não raras vezes deletérias, ao tempo existencial das personagens e de suas necessidades. A necessidade de viver segundo princípios que forneçam significado pertinente à qualidade de suas vidas. Ao questionamento crítico do que conhecem sobre si mesmas.
Moisés Prometeu, prometeu ao povo judeu a oportunidade de libertá-lo do jugo e da dominação escravagista dos senhores da época. Moisés lhes forneceu as ferramentas que os conduziu a saltar o muro da vergonha que os mantinha prisioneiros da cultura de dominação do povo pela política escravagista do Faraó.
Não fosse a possibilidade do Êxodo, proporcionado pelo enfrentamento do exército a serviço dos poderosos da época, não haveria liberdade. Mas os escravos se afeiçoam a seus feitores. E muitos deles, aos primeiros embates com as novas solicitações de uma vida livre, logo queriam regressar aos domínios de uma rotina de escravização.
Os textos bíblicos fornecem todas as indescritíveis críticas à fragilidade humana. Torna-se patente a evidência incontestável de que, sem a intervenção de um poder muito além das limitações dos escravos, e de seus líderes, eles não teriam ousado sequer pensar em liberdade coletiva. Mas, liberdade traz responsabilidades. E muitos grupos desse povo não estavam dispostos a pagar o preço por ela. Liberdade.
2.4. OS TEXTOS BÍBLICOS E A LITERATURA LAICA
2.5. O SURGIMENTO DA CRÍTICA ESTÉTICA
As histórias bíblicas fundamentam a estética de toda a literatura ocidental. A literatura posterior aos contos e poesias inseridos no grande romance das origens da espécie pensante Homo sapiens/demens, a Bíblia, não possui textos que não estejam inseridos nos sentimentos e emoções das personagens bíblicas. Proust e Joyce, a inquietação das personagens, suas perplexidades, seus anseios e questionamentos, e os estilos de narração, do Barroco ao Simbolismo pós-moderno, estão todos, uns mais, outros menos explicitamente, contidos nas histórias bíblicas.
A experiência empírica que originou o fluxo de consciência do sujeito nas narrativas literárias modernas, a revelação de seus mais íntimos sentimentos, procedem da estética estabelecida no discurso das personagens neolíticas e em suas dramatizações constantes no livro dito sagrado.
A estética enquanto ciência autônoma evidencia a sensação subjetiva proveniente de uma obra de arte, seja ou não literária. O historiador e abade inglês Du Bos, autor do suposto primeiro tratado de estética não dogmática, Réflexions sur la poésie et la peinture, teve a ousadia de pretender ajuizar a progênie das sensações de deleite e satisfação fruídas pelo espectador ou o leitor de uma obra pictórica ou literária. É de sua autoria, este parágrafo:
Tenho a ousadia de pretender explicar a origem do prazer que nos dão os versos e os quadros. Tentativas menos ousadas podem passar por temerárias, pois é querer deixar à conta de cada um a aprovação ou as aversões. Assim, não espero merecer a aprovação, a menos que consiga fazer o leitor reconhecer em meu livro o que se passa com ele próprio, em suma, com seus mais íntimos sentimentos (ABADE De BOS, edição 1919).
Esta é a suposta primeira crítica estética de julgamento, proveniente da atividade interior característica do sujeito e observador sensível. Nela subtende-se a presença afirmativa da formação cultural do espectador e de suas inclusões perceptivas de natureza diversa.
Diderot afirmava que o discurso autoral “é um conjunto de hieróglifos amontoados que refinam o pensamento”. Os saberes da pessoa que vê ou lê com sua bagagem cultural imanente, inclui a percepção ou a disposição de natureza psicológica, histórica, genética, religiosa e filosófica. Esta é também a maneira a partir da qual se afirma a adequação argumentativa da crítica e da estética literárias.
2.6. A CRÍTICA, PRODUTO LITERÁRIO DO SÉC. XIX?
Thibaudet dizia que antes do século XIX existiam críticos: Bayle, Fréron e Voltaire, d´Aubignac, d´Halicarnasse e Quintiliano, mas a crítica propriamente dita inexistia. Ele mencionava a crítica enquanto produto da pesquisa literária, do uso da metodologia da ciência da história, sua enumeração e estudo das obras literárias.
Na década de 60 do século XIX, no período entre Baudelaire e seus textos sobre Poe e Victor Hugo com William Shakespeare, surgiu a crítica “positiva”, modelo estabelecido nas ciências deterministas: o olhar científico aplicado aos textos literários.
Excetuando-se Sainte-Beuve, pontificam Hippolyte Taine, Ernest Renan, Ferdinand Brunetière (evolução dos gêneros) com seu Manuel de l´histoire de la littérature française: a didática na história da literatura.
Taine afirmava ser preciso distinguir características em busca das causas e seus três fatores: origem familiar, momento e meio. Na lógica positivista figuravam a psicologia, a sociologia e a história da obra literária, a exemplo o naturalismo de Zola. Taine define a crítica enquanto sendo “o naturalismo da alma”. Através dela, da construção da história moral e do conhecimento das leis psicológicas através do estudo da ação das personagens, é que os acontecimentos históricos se revelam.
Ou seja: não se distinguia a escrita literária do acontecimento histórico. Proust crítico, identifica leis provenientes da criação literária que revelam não apenas o mundo do escritor, mas que regem também o mundo exterior à obra. Quem sabe essas leis, se devidamente analisadas e ordenadas, viessem a se transformar em princípios comportamentais na ciência da natureza humana.
A originalidade do escritor e da crítica literária teria menor prevalência no estudo das obras, do que as leis da criação literária que primam em fazer crescer em originalidade e qualidade perceptiva, não apenas o espírito das personagens, mas a ordem transcendente e inteligente das ideias predominantes na literatura. Os leitores seriam os principais beneficiados por ela. A literatura.
A melhor demanda do público leitor, à priori, talvez inexista. Por que inexiste a disposição do mesmo em consumir as palavras, frases, orações, parágrafos, páginas e capítulos de um livro que ainda não havia sido escrito, e que está no mercado de oferta de bens de consumo e entretenimento, uma vez editado, à procura do interesse de quem o leia.
A estética da recepção (em bloco) de uma obra literária depende do “inconsciente coletivo” da sociedade à qual ela se dirige em certo momento atual captado e construído pela individualidade do autor. Torná-la inteligível e agradável a uma sociedade massificada pela globalização do entretenimento vil, é tornar o autor e a obra imediatamente classificáveis como insignificantes e desprezíveis.
A definição de individualidade é o objetivo a ser alcançado pela análise literária: consiste em estabelecer as características da obra literária, as que são explicadas por razões literárias, históricas, sociais, biográficas e até mesmo, se possível, psicológicas, mas também as que não têm explicação e que constituem a originalidade específica do escritor (ROGER, citando LANSON, 2002).
Saint-Beuve, crítico, autor e historiador em meados do século XIX positivista, ao afirmar que “a verdadeira crítica consiste em estudar cada ser, cada talento, segundo as condições de sua natureza...”, supostamente ignorava esses demais fatores citados por Lanson no recorte acima, desde que a “existência de características que não têm explicação e que constituem a originalidade específica do escritor”, são por ele, Saint-Beuve, mencionadas em momento posterior quando disse: “esta arte (crítica) já se valeu e continuará se valendo de todas as induções da ciência e de todas as aquisições da história”.
Por que então Saint-Beuve ignorou deliberadamente os atributos literários de autores tais, como seus contemporâneos Balzac, Stendhal, Nerval e Baudelaire? Esses talentos inquestionáveis, “segundo as condições de sua natureza... fazendo dela (crítica) uma viva e fiel descrição, classificando-a em seguida para poder colocá-la no lugar apropriado na ordem da Arte”.
Por que não posicionou Baudelaire, Nerval, Stendhal e Balzac em seus merecidos e justos nichos propícios na “ordem da Arte”? Será porque ele, Saint-Beuve, não teve a disposição natural de reconhecer-se inferior, em sua produção literária, com relação a esses autores que transformaram a qualidade literária na “ordem da Arte” em seu tempo? A natureza afirmativa de seu narcisismo e megalomania fora mais forte do que a disposição para o reconhecimento do talento daqueles autores, seus contemporâneos, supracitados?
2.7. “PROUST CONTER SAINT-BEUVE”
Proust não tinha simpatia com a noção de literatura e crítica literária segundo a cartilha da filosofia positivista. Proust afirmava que na arte inexiste iniciador ou precursor. Cada criador literário começa e recomeça sua obra independente da produção literária de seus antecessores. A criação literária não é uma ciência. Nesta, uma verdade se afirma via experimentalismo e é sempre mantida enquanto peça estrutural nas descobertas científicas posteriores.
Na literatura o indivíduo social, o inconsciente coletivo do autor, distingue-se do Eu do discurso literário criativo de uma obra de ficção realista e/ou científica anterior: o “Eu profundo” ou “Eu Criador”. Proust dizia que filósofos de inclinação positivista não perceberam que a arte não condiz com a ciência no concernente ao conhecimento predecessor que é, obrigatoriamente, menos completo e menos desenvolvido do que as descobertas do conhecimento que os sucede.
Esse paradigma científico não funciona em arte. Na arte, o iniciador ou precursor não é necessariamente menos dotado de conhecimentos pertinentes ao fazer literário, por exemplo: “cada autor, segundo Proust, recomeça por sua conta a tentativa artística ou literária. As obras dos predecessores não constituem, como na ciência, uma verdade adquirida de que fará uso aquele que vem depois”.
2.8. A REVELAÇÃO DA OBRA ATRAVÉS DA RAZÃO E DO AFETO
Remy de Gourmont, crítico associado aos simbolistas, legitimava a crítica do ponto de vista da subjetividade do escritor. Segundo ele, “a única justificação da crítica é dizer coisas ainda não ditas e dizê-las de uma forma ainda não apresentada”. A revelação do “eu profundo” do autor se constituía na tarefa essencial atribuída por Proust à nova crítica. Não apenas os significados semânticos por vezes superficiais, mas, principalmente, à verdade mais central da obra revelada pelo “eu profundo”.
A obra literária, não mais enquanto objeto apenas estético, mas um processo de criação que se desdobra e enfatiza na participação subjetiva e criativa (interpretativa) do leitor. Ambos são igualmente agentes descobridores não somente de seus significados, mas, também, de um processo criador interdependente entre as subjetividades do “eu profundo” de ambos os envolvidos na criação do autor e na criação perceptiva do leitor.
Uma obra continua sendo para mim um todo vivo que passo a conhecer desde a primeira linha, a quem escuto com deferência, a quem dou razão enquanto estiver junto dela, sem tomar partido nem discutir. [...] O único progresso que, desde minha infância, pude fazer com relação a esse ponto de vista e, se quiserem, o único ponto em que me distingo do Sr. De Guermantes, é que, deste mundo imutável, deste bloco do qual não podemos nos afastar, desta realidade determinada, consegui estender um pouco mais o limite que para mim não é mais o de um único livro: é a obra de um autor (PROUST, 1971).
A voz do autor, através de seus e de suas personagens, é reconhecível pelo leitor atento à racionalidade e à afetividades nela presentes, do primeiro ao último capítulo. O livro está vivo, uma vez que está sendo lido e interpretado pela subjetividade do autor da qual participa o leitor com seus sentimentos, emoções e razões interativas com as razões e motivações de seus e de suas personagens. Todos os envolvidos no processo de autoria, leitura e participação da afetividade e a da racionalidade da obra: autor, personagens, leitores. Críticos.
2.9. O ESTILO E OS SEGREDOS DO TEMPO PERDIDO
O tempo perdido que, em realidade, é o tempo reencontrado e redimensionado. O tempo perdido é o tempo novamente vivo e achado, superando-se as limitações do autor, das personagens e do leitor que, uma vez ativadas as significações nos reencontros do “eu profundo” de cada um dos envolvidos (autor, personagens, leitor) complementa-se a vida que não fora vivida porque desprovida estava de conhecimentos que se revelaram na leitura e na releitura de cada um e de todos.
O estilo do autor e do pintor não se revela apenas pela técnica do escrever e do pintar. É mais uma questão visionária. Nenhuma ideia ou percepção é demasiadamente extravagante ou excêntrica. Todas elas contribuem igualmente para a revelação das limitações, das qualidades intrínsecas e da profundidade com que as diferenças e semelhanças entre as pessoas envolvidas, entre os sonhos e as realidades de cada um participante da obra, flui da, e em direção, às outras subjetividades envolvidas.
2.10. A CRÍTICA MANIFESTAÇÃO DA ENERGIA VITAL
Existem leitores e leitores. Assim como existem críticos e críticos, autores e autores. Uns, pertencem à “ordem da Arte”. Não da arte pela arte. Mas dela enquanto manifestação do “eu profundo” que exercita a percepção não apenas enquanto entretenimento banal ou que banaliza. A literatura enquanto divertimento ocasional é para espectadores de sofá, na sala do Jornal Nacional.
A literatura que não se deseja essencial, ao autor, ao leitor e às personagens, é para leitores que se emocionam com meu pé de laranja lima. O status literário da modernidade e da pós-modernidade equivale, atualmente, à literatura que se lê, se divulga e se premia nas academias de letras na Europa assim como nas Américas. Os senhores do mercado esqueceram o QI e a Qualidade de vida (e de subjetividade). Para eles interessa apenas e principalmente, o fator econômico: os interesses das perfumarias dos alquimistas das feiras de livros. E das academias de letrinhas, feitas para o entretenimento de coelhos, sua grande família de usuários de jogos em celulares. Os espectadores de sofá da sala de jantar.
Hoje, os vivas à cidadania são pronunciados nos discursos de palanque para os amontoados de prisioneiros dos Lulla Gullags. A sociedade neolítica do século XXI, que promove as bolsas famílias do ensino fundamental ao dito superior.
A literatura para famílias de coelhos, para uma sociedade dominada pela programação mental nazista, adotada em todos os países Aliados ao programa MK-Ultra de dominação atroz das mentalidades pelo nivelamento por baixo e o sucateamento físico e mental das populações submissas.
O programa educacional das bolsas-famílias que afirmam a dominação cultural do MK-Ultra, destina-se à dominação mental de crianças e adolescentes por companhias multinacionais interessadas em manter as mentalidades traumatizadas e submissas aos interesses políticos e econômicos do sistema. Capitalista.
A suposta literatura criada para a “inteligência” boicotada nas salas de aula por uma educação enquanto suporte para os consumidores de cocô cultural. A produção literária atual equivale à produção em massa, em série. Vejam-se as premiações do escritor Paulo Coelho, sua aceitação pela cultura massificada dos consumidores de jogos em celulares, i-Pods e congêneres. As máquinas editoras giram seus cilindros sob o comando, comunicação e controle dos grandes decanos da fatuidade que fazem do Coelho mais que meramente o que ele é: um autor fugaz. Muito premiado pelas Academias transformadas em academias de letrinhas.
As grandes plateias de leitores neolíticos do século XXI, se equivalem às macacas de auditório dos programas dos ratinhos e de seus assistentes culturais entregues à manipulação da produção serializada de brinquedos TVvisivos para crianças idiotizadas do gênero feminino dos 15 aos 90 anos. Crianças que um dia ganharam de presente de aniversário ou de Natal, bonecas Barbie e desejaram sê-las de carne e osso. Não sabemos o que é a crítica literária e a crítica à cultura de Lulla Gullag, da mesma forma que não soubemos o que foi a crítica à cultura e à literatura nos primeiros dias do século XIX.
A crítica literária não é uma atenção ao único ou aos primeiros. Digamos dos críticos brasileiros, se é que existem, o que J. Paulhan denominou em “As Incertezas Da Linguagem” mencionando os críticos franceses e suas inconsistências afirmativas da cultura literária nas sociedades do século XIX/XX, assim como poderia dizer ao mencionar os padrões culturais que premiam uma cultura literária para Coelho nenhum botar defeito nas sociedades das letras e da cultura modernas digitalizadas e globalizadas:
Tudo que é preciso dizer dos críticos franceses é que, por mais diversificados que sejam, estranhamente lhes falta energia. Ou então a utilizam a torto e a direito. Não se conhece um que tenha dito uma palavra sobre Lautréamont. Nem sobre Rimbaud. Nem sobre Mallarmé. Quanto a Baudelaire, Saint-Beuve o considera anormal, Faguet, banal. A Lanson falta sensibilidade e Maurras é corrosivo (PAULHAN, 1945).
Onde está a energia vital que deveria manter as mentes vivas? Que deveria sugestionar com inteligência e sensibilidade pertinente aos leitores de livros? Onde estão os críticos literários que valorizem a imaginação em busca de conhecimento pertinente à razão e à sensibilidade?
2.11. A ÊNFASE DA LITERATURA
A literatura que não é criada para o consumo da descendência de coelhos, não almeja jamais ser incensada pela política de aplauso e premiação dos barões da globalização da quantidade. O conhecimento superior do “eu profundo” proustiano é proveniente de sensações interiores complexas, essenciais. Não é para consumidores de bonecas Barbie, educadas pela Bolsa-Família, pela “literatura” de consumo da grande família globalizada dos coelhos. Coelhos habitantes dos Lulla-Gullags.
As milhares de sensações internas, que por si mesmas são autoeletivas e seletivas, através das gerações, através do tempo, constituem a revelação da força de uma rede complexa de significados pertinentes ao imaginário excelente proveniente da alma do autor. Do autor que ousa ultrapassar o grande oceano revolto das vagas que impedem a grande maioria dos seres humanos de chegar ao lugar além do bojador, onde a noção semântica de imaginário faz esse autor (seus leitores) navegar na superfície do mar, ao mesmo tempo em que se dá conta das profundidades abissais sob seus pés. Profundidades subterrâneas que não estão ao alcance da descendência dos coelhos habitantes dos Lulla-Gullags.
Dessa intimidade ousada com o conhecimento abissal da linguagem evolutiva, resulta uma consciência criativa que nunca há de se completar, porque se tornou requisito da manifestação de um imaginário que repousa entre os lençóis e travesseiros do infinito.
A consciência do autor e a do leitor proustianos, da percepção do mundo associada à experiência básica com o universo do inconsciente coletivo, significativo, cósmico. Dessa forma o que é humano e telúrico se dá a conhecer facilmente. Porque suas limitações se revelam à luz do fenômeno criativo de seu imaginário. Uma literatura de coelhos para coelhos não pode chegar até aí. Não pode desejar ir além do bojador.
Mas estamos falando em crítica literária. Vamos estacionar nosso imaginário nos silogismos da crítica temática. A crítica, qualquer crítica, nos faz “surtar” em volta de nossos significados pessoais, após associá-los ao mar do inconsciente coletivo. A fenomenologia desse processo conduz os atores, autores que merecem esse nome, à consciência de uma comunicação que transcende as necessidades de superficialidade da alquimia dos mercados de mercadores de livros.
O mundo desse autor proustiano, faz sentido. Revela-se na linguagem aristotélica da mimese que soluciona, no imaginário de sua subjetividade, problemas de natureza material e emocional. Como afirmou Jean-Pierre Richard ao situar conceitualmente a crítica temática em sua avaliação pessoal:
Seu esforço de compreensão e de simpatia em uma espécie de momento inicial da criação literária. Esse momento é também aquele em que o mundo adquire um sentido pelo ato que o descreve, pela linguagem que o exprime por mimese e que resolve materialmente seus problemas (RICHARD, 1955).
2.12. A INTENÇÃO FUNDAMENTAL DA MIMESE
A EXPERIÊNCIA DA CONSCIÊNCIA ÚNICA
A mimese (mimesis ou intertexto emocional), conceito poético aristotélico, firma-se na crença congênita do homem enquanto ser distinto na natureza. A partir do surgimento do casal adâmico, sua expulsão do suposto Paraíso, tudo que o ser humano faz é pastar na incoerência de sua condição de peregrino, romeiro em sua própria terra. Essa é a percepção da temática primal do ser humano: a culpa original. O medo original.
A acusação que lhe faz o Criador de que violou o pacto com Deus (ET) e por isso mesmo passa a merecer todas as tribulações na rotina da luta pela sobrevivência. Esse descendente adâmico estaria eternamente submisso à mente acusativa e sádica de um Deus (RT) que o mantém atrelado à uma fenomenologia de coelhos.
Os descendentes do casal adâmico estão a imitar a família original desde sua criação e expulsão do sítio supostamente aprazível, tido e havido como sendo o Jardim do Éden. Tribulações, neuroses, sofrimentos, assassinatos, guerras, conflitos, interesses em colisão, injúrias, ameaças e armas enquanto ferramentas de ataque nos infindáveis dramas da natureza humana: Caim, homicida, mata seu irmão Abel. O homicídio e o incesto são realidades fundamentais na história sapiens/demens. Seu intertexto interminável está presente nos jornais nacionais de todos os países.
Hoje, outubro de 2014 da Era pós-moderna há globalização dos conflitos, na luta renhida pela sobrevivência a partir da corrupção dos hábitos originais: o ciúme, a gula, a luxúria, a avareza, a ira, a soberba, as tramas, a corrupção dos sentidos, a vaidade, a preguiça folclórica de Macunaíma, os assassinatos continuam, as guerras prosseguem. E a chamada cultura e civilização moderna e pós-moderna estão pastando na mais intensa pulsação do coração neolítico das trevas: o interesse pessoal administrado pela corrupção demencial dos costumes, desde a expulsão do casal adâmico do suposto Paraíso Perdido até a data atual de vigência da sociedade neolítica do século XXI.
A literatura pode ser considerada herança e repetição (mimese) das histórias neolíticas narradas pela Bíblia. Intertexto dessas histórias. Neolíticas. A cultura e a civilização hodiernas estão a repetir a mímica (mimese) ou modo de imitar por meio da narrativa escrita, as expectativas de uma vida que repete, em tudo por tudo, a pulsionalidade primitiva dos povos neolíticos:
As personagens, os enredos das histórias, as ambições, as paixões, os amores, a esperança, a fé, o temor pulsional dedicado a um ser superior responsável pela criação do Homo sapiens/demens, tudo permanece na mesma. Entre a caverna paleolítica, as habitações primevas construídas na rocha pelos hominídeos sapiens/demens do neolítico e os luxuosos e sofisticados apartamentos na Vieira Souto ou nos Jardins, a única diferença emerge da tecnologia e de seus confortos cibernéticos. Domésticos.
2.13. O SONO ETERNO DA
CULPA E DO MEDO
Emocionalmente, essencialmente, o Homo sapiens/demens continua igual. Seu “eu profundo” bestial. Fazendo o maior número possível de vítimas entre seus semelhantes. A corrupção política lança no fosso da história dita moderna (e pós-moderna), milhões de seres ditos humanos, com uma educação rudimentar e uma saúde sujeita a todo tipo de infestação virótica. Hoje, com a degradação dos recursos humanos e naturais (corrupção político-econômica), mais do que em tempos milenares idos e havidos: veja-se que o ebola alcançou os Estados Unidos.
A mimese (intertexto emocional) é a imitação da ação também, e principalmente, no universo infinito das partículas atômicas, nas interações quânticas entre os seres ditos humanos. Modernos. Pós-modernos. Neolíticos.
A crítica temática da literatura se processa a partir da apreensão e análise parcelada de fragmentos do texto na perspectiva fenomenológica. Segundo Proust, a obra literária é criada a partir de percepções mais ou menos conscientes do “eu profundo” do autor.
Quem sabe alguém possa manter a ilusão primitiva e possa ser otimista com a mimese ou imitação moderna e pós-moderna (intertexto emocional) tão intensamente obsessiva do “neolithic way of life”? Uma civilização onde o consumo pelo consumo desempenha o papel de norteador principal dos sonhos e ações ditos humanos?
Um novo casal adâmico precisaria sair Em Busca Do Tempo No Paraíso Perdido Da Atualidade Do Pós-Modernismo! Encontrar-Se. Outra Vez. E originar uma série de atitudes que não condenem esse novo casal adâmico a essa existência injustificável do ponto de vista da Ética dos costumes.
É preciso chamar os representantes dos senhores ETs das políticas atuais para um diálogo sincero na mídia TVvisão. Perguntar-lhes se é justo condenar uma espécie a sentir-se culpada por toda a vida! Do ponto de vista do Criador ET, dominar uma raça pela culpa inserida no ADN da espécie Homo sapiens/demens: isto é ou não, uma forma abominável de covardia? Covardia do ET que forjou o ADN do primeiro casal. Adâmico. E condenou seus descendentes a pastar na lapa da culpa e do medo. Per omnia saecula saeculorum!
2.14. APRENDIZADO
LITERÁRIO PERTINENTE
ÀS ORIGENS DA ESPÉCIE
A documentação da história literária e da crítica às origens da espécie humana começa com o dedo acusador de Deus (ET Criador). Dedo acusador apontado em direção a nossos pais primitivos. Eles pecaram. O pecado da desobediência. O pecado a partir do qual se origina toda a história humana e a construção de suas conquistas e de sua ciência.
Esse ser, ET todo poderoso, nos criou sob o signo da culpa, do medo da repressão a essa culpa, e da vergonha por termos cometido o pecado original. Pecado fonte de todos os nossos erros e acertos. A dominação anímica, psicológica, estruturada na crença desse ato cultural primevo, nos conduziu a essa cultura onde imperam as leis do mais forte, do mais armado, do mais violento, do mais rico, do mais poderoso, do mais corrupto, do mais que tudo pode. Do mais que a todos dana, que a todos fode.
A sexualidade primitiva gerou a ideia de que o próprio ato original é, obrigatoriamente, lascivo, libertino, censurável. Ou seja: a danação começa quando o sêmen é lançado no útero e o feto já surge cheio da culpa e da perversão original.
É necessário que o Homo sapiens/demens chame Deus, ou o ET responsável pela falha do caráter original de sua espécie, e reivindique, no tribunal de sua redenção, o resgate moral da espécie humana. Resgate este, sem o qual o pecado original vai continuar avassalando todos os atos falhos do homem e os atos de redenção dessa espécie agenciados pelo Filho do Homem. Personagem principal do Novo Testamento.
Parece-nos autoevidente que, sem essa redenção original, o homem vai continuar oprimido, seduzido e cativado pela culpa e pelo medo da repressão autopunitiva original. O Homo sapiens/demens precisa libertar-se dela, dessa culpa e desse medo primitivo, ou sua história continuará sendo a história de seus crimes, de seus incestos e de seus assassinatos em massa.
2.15. AS TRÊS SEMÂNTICAS:
FORMAL, ENUNCIATIVA E
COGNITIVA
Na semântica formal temos a considerar o valor referencial do significado. É preciso transformar a natureza da mitologia da Criação (Gênesis) humana para termos condição de metamorfosear os seres humanos? Transformá-los! No sentido de libertar a espécie sapiens/demens de seu determinismo ou referencial histórico, mitológico e literário originais?
Na semântica enunciativa temos a linguagem crítica sobre a ilusão criada pela semântica formal. A linguagem original (referencial) não mais enquanto enredo que magnetiza a conduta posterior da espécie Homo sapiens/demens transformando-a numa urdidura infinita de condicionamentos culpados e temerosos de seus atos falhos. A crítica pertinente a essa Gênesis, cria a necessidade de originar uma nova Gênesis que venha a libertar esses seres escravizados pelo medo e pela culpa. Infinitas.
Na Criação de uma nova história, de um novo começo, de uma nova literatura mitológica, de um novo Gênesis que liberte o homem de seu condicionamento mítico original, a investigação da linguagem na semântica cognitiva precisa “apenas” criar uma ressignificação original do evento de expulsão do casal adâmico do Paraíso Perdido. Resignificação que independe da referência significativa presente na semântica formal ou referencial de origem culpada e temerosa da espécie. Humana.
Será essa ressignificação “sui generis”, tornada lendária, excêntrica e singular, o evento paradigma que libertará o homem de sua culpa e de seus medos originais? O Gênesis precisaria ser reescrito, sob o ponto de vista literário, de uma nova proto-história criativa e crítica:
O homem finalmente responsável por sua origem sem culpa e sem medo. Talvez dessa forma a história do medo perene e da culpa interminável, parasse de acorrentar o homem ao DNA de uma mitologia, não de culpa, mas de absolvição.
Uma nova formatação da história original sapiens/demens, que não conduzisse essa espécie à reprodução de situações históricas onde o interesse conflituoso entre grupos antagônicos pudesse parar de gerar o assassinato entre irmãos da mesma espécie através de homicídios, e o genoma das guerras não fosse mais o motor genocida da história.
3. CONCLUSÃO
3.1. RESSIGNIFICAÇÃO DECISIVA
Ao mudar o filtro original que provocou o evento da expulsão do casal adâmico do Paraíso Perdido, muda-se a expectativa e a perspectiva de afirmação biológica, semântica, histórica, literária, das personagens aleivosas, reais e virtuais, da espécie Homo sapiens/demens.
O medo e a culpa não mais determinariam os acontecimentos tipo os intertextos intermináveis do assassinato de Abel por Caim, intertextos intermináveis onde pontificam a política da perversão, da corrupção e da incestuosidade social de interesses políticos, jurídicos e econômicos dos grupos partidários modernos e pós-modernos, descendentes do par adâmico primitivo, expulso do Paraíso Perdido. Sua descendência originou todos os modelos posteriores de aberrações genéticas e políticos comportamentais. Aberrações! Sapiens! Demens!
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ANEXO
NUMA SOCIEDADE ACRÍTICA TUDO É NORMAL
Não há como ignorar a influência da política da "educação do faz de conta" do Planalto Central e de seus governos estaduais e municipais. Que eu saiba, não teci nenhum mínimo elogio a políticos do partido supostamente "de oposição". Cujo ex-candidato à presidência, foi, ao mesmo tempo, o principal cabo eleitoral da Bolsa-Bufa elogiando esse programa e o governo de seu "opositor" partidário. Normal!
A vergonha da condição da educação no país deve-se a investimentos que têm o propósito de camuflar a tragédia irreversível da educação do faz de conta, à qual o ex-presidente Analfabeto contribuiu com investimentos em sua imagem de "salvador da Pátria". Sua sucessora já prometeu que vai ampliar os investimentos na Bolsa-Bufa, atingindo uma quantidade mais ampla de eleitores, com os quais pretende se reeleger. Normal!
Por mais que ella (presidente do 3° mandato de Lulla LOST) pretenda convencer os corações e às mentes que sentem e pensam a tragédia política ora vivenciada pelos eleitores brasileiros. Essa tragédia política e social está aí, nas escolas, na corrupção generalizada. Nas ruas a resposta a essa política: uma sociedade que se adapta aos esquemas de corrupção política cada vez mais considerada numa perspectiva "normal" (veja o presidente da Casa Grande Senado, exemplo entre dezenas). Veja a exponencial multiplicação da violência urbana. Os assaltos à joalherias nos shoppings é apenas um dos muitos sintomas. Normal!
É normal as polícias participarem dos esquemas de "repressão" aparente às drogas. É normal a aceitação tácita de uma educação do faz de conta. É normal ignorar o tipo de futuro que se reserva às crianças e à juventude do país, entregues à sanha da propaganda comportamental (social) tipo BBB. É normal os esquemas de prostituição em massa. É normal a exportação de travestis e prostitutas que buscam em países europeus acumular um pé-de-meia familiar. É normal os paradigmas de a República Velha prevalecerem na República dos amigos e partidos político aliados aos interesses pessoais do ex-presidente Analfabeto. Normal!
É normal... essa normalidade ("como nunca se vil antes neste país")... Que país teremos em uma ou duas décadas? É normal... Dentro dessa normalidade ("como nunca se vil antes neste país"), que daqui uma ou duas décadas esse país habitual, com pacífica naturalidade, venha a aceitar uma agenda muita mais incrementada de aberrações sociais de todos os gêneros. Os políticos. Inclusive. E principalmente. Normal!
É normal que presidiários de suas celas em cadeias de segurança máxima estejam gerindo confortavelmente seus negócios, suas transações milionárias, com a conivência calada dos poderes públicos que, de alguma forma, estão faturando a compra, distribuição e venda das "mercadorias". É normal as lideranças de o crime organizado estarem confortáveis, contribuindo para que as taxas do produto interno bruto mantenham-se em alta. Normal! Que policiais militares sequestrem traficantes para cobrarem trezentos mil reais de resgate. Normal!
É normal que no próximo carnaval, na Marquês de Sapucaí, se façam homenagens públicas aos heróis da nacionalidade que, de dentro de suas celas, autorizados pelas direções de seus estabelecimentos penitenciários, usufruem de quase todas as mordomias que estariam usufruindo se em liberdade estivessem frequentando as ruas. Onde estariam passeando em seus carros importados. Admirados pelos membros das polícias. Das políticas. É normal que a Reforma Política seja adiada mais outras vezes sem conta. Normal!
É normal que as excelências aumentem seus salários na calada da noite. Enquanto o salário mínimo obteve um reajuste "espetacular". Passando de R$ 510, 00 para R$ 540, 00. Cinco vírgula nove por cento (5,9%). É normal que os parlamentares Tiriricas, geridos pelo presidente da Casa Grande Senado, direto de suas propriedades Beira-Mar no Maranhão, tenham aumentado os salários de suas excelências, incluídos aquelas excelentíssimas excelências, as que não se reelegeram, mas ganharam também os 62% de acréscimo de salário, com direito aos 15°. Normal!
As verbas da saúde e da educação estarão sensivelmente diminuídas. Isto porque as excelências excelentíssimas, devidamente togadas, dos tribunais supremos, logo estarão pleiteando novos ajustes para seus vencimentos. É normal.
É normal que se crie uma classe privilegiada de assalariados que exerçam comando, comunicação e controle sobre os necessitados da cesta básica da sociedade. Escravizando-os financeira, econômica, mental, física e emocionalmente. Usufruindo de seus corpos e de suas mentes. Corrompendo-os. É normal!
É normal que essa política continue sucateando seus corações e suas mentes. E depois os exportando para fazer "trottoir" nos países europeus, asiáticos, nórdicos. Mostrando tudo o quê de melhor a baiana e quejandas têm. Por que esse paraíso tropical é mesmo a terra da felicidade. Por que os turistas pedófilos mal saem e já estão morrendo de saudade. Saudade das plumas e paetês da normalidade. É normal.
É normal que suas famílias aceitem fazer parte de uma sociedade que criminaliza as drogas para que os traficantes do colarinho branco fiquem cada vez mais ricos. E os poderes usufruam das benesses dos salários provenientes da conivência com traficantes. Os nacionais e os inter. É normal que os membros das quadrilhas organizadas sejam considerados pelas autoridades legislativas (parlamentares), executivas e judiciárias, como sendo empresários. Por isso merecem a consideração e o respeito dos poderes republicanos. Normal!
É normal que o "Reich Dos Mil Anos", esteja perfeitamente de acordo com as diretrizes e bases da sociedade sob comando, comunicação e controle do "Reich Dos Mil Banqueiros". É normal que a sociedade brasileira não seja mais do que uma sala de jantar, uma praça da alimentação, para os pedófilos de todo o planeta virem fazer uma festa sucateando emocional, intelectual e precocemente milhões de crianças e adolescentes que jamais terão uma condição de respeito próprio e mútuo a defender. É normal. Que suas famílias aceitem essa condição com naturalidade. Normal!
É normal cada família ter seu viciado de estimação. Seu travesti de estimação. Seu traficante de estimação. Seu veado de estimação. Sua sala de aula na sala de jantar, essa jaula, com seus heróis TVvisivos de estimação. Todos saídos das novelas, dos enlatados, de seus irmãos de estimação do Big-Brother. É normal que todo o país esteja torcendo por esse ou aquele participante dessa competição de "alto nível" entre irmãos. Do milhãozinho e meio. Normal!
Afinal, é normal querer ganhar um e meio milhãozinho em troca dessas imagens de pestilência social, da moral e da ética vigentes em suas organizações com base de atuação na Praça dos Três Poderes. Normal!
É normal se a "Oposição" vier a disponibilizar o vice-presidente para a chapa da situação. Na próxima presidencial eleição. É normal o fator econômico se a parte assegurada do Leão está garantida em sua normalidade. É normal que ninguém tenha olhos para ver. Ouvidos para ouvir. Que nariz vai sentir esse odor de putrefação? Que não vem apenas do Tietê. Com toda essa propaganda de odorizantes ambientais? Normal!
Se não há educação pertinente à criação de um espírito acadêmico intelectualmente preparado, como poderá haver crítica a esses desmandos. Tão normais?! Como poderá haver uma atitude de respeito próprio, autoestima e amor-próprio, numa sociedade que se entrega tão facilmente à trituração fundamentalista de qualquer valor ou princípio? Moral! Ético?! Normal!!!
Esse terceiro mandato do governo do presidente Analfabeto, que certamente vai querer um quarto mandato, está, precoce e completamente, minado por atitudes sinistras (todas elogiadas e “Normais”) na área da educação. Veja a herança delle. Exemplos? Dezenas! Apenas outro: o ex-presidente Analfabeto sancionou uma lei que fixa uma data de daqui a dez anos (uma década) para a instalação de bibliotecas em todas as escolas do país (as públicas e as particulares). Hoje, 34,5% das escolas de ensino fundamental brasileiras possuem bibliotecas. O Censo Escolar de 2009 registrou 100 mil escolas sem bibliotecas. Normal!
Essa lei dá um prazo de dez anos para sua vigência. A intenção da política educacional do ex-presidente Analfabeto está demasiadamente exposta nesse episódio da lei e do largo prazo judicial estabelecido para começar a viger. Ora, o país, em todas as pesquisas (oficiais, não oficiais, nacionais e internacionais) está devendo em qualidade educacional, aos filhos de todas as idades de todos os eleitores, uma atitude ética, uma providência no sentido de moralizar um mínimo o setor educacional. Normal?!
Que fez a política do ex-presidente Analfabeto? Ao mesmo tempo em que criou a norma da lei, forneceu o argumento que a isenta do cumprimento da obrigação. Como se a carência e o débito da política com a educação não fossem fatores a considerar. Tudo muito normal. A normalidade da indignidade total. Da total falta de respeito às demandas intelectuais da sociedade. A atitude oficial de conservação das carências na área da instrução fundamental. E do ensino médio. Quando essas bibliotecas forem instaladas, levarão, possivelmente, mais dez anos para começar a funcionar. Normal!
— “Ora, direis, ouvir estrelas”.
Quem precisa de biblioteca? Se um migrante nordestino analfabeto foi eleito presidente da República? E sua política educacional ainda hoje é motivo de elogios até entre seus (supostos) opositores políticos? Tudo normal!
— Ora direis! Quem não gostou do óbolo da Bolsa-Família? Os miseráveis têm como adquirir brioches. E a “elite” encontrou um meio termo, um jeitinho brasileirinho de apaziguar os ânimos das famílias da Bolsa-Família, que terão seus filhos e filhas, em breve, perambulando nas ruas das cidades do país, e fora dele, com a bunda de fora, oferecendo-se na aliciação de fregueses (ou “clientes”). Normal!
— Ora direis! Quem precisa alimentar o espírito? Pessoal e coletivo? Se a grande maioria deles já se conveniou com os interesses comerciais e econômicos dos donos da política dos porcos? Quem precisa de leitura, se o Lulla está aí cheio dos prestígios, sem que tenha tido um diploma, exceto o de presidente da República dos que mal falam, mal ouvem, mal veem, e nada leem? Normal. Vamos manter a normalidade da educação no país. Dessas normalidades monstruosas.
Os professores, esses, com o salário que ganham e o medo atávico de perderem promoção em seus empregos se, por acaso ou a propósito, fizerem uma sugestão mal vista por uma autoridade do setor das secretarias municipais e estaduais de educação? Eles não se sentem minimamente responsáveis por qualquer reivindicação que critique, um tantinho assim, essa condição social corrompida e depravada da educação nacional. Exceto em papos de mesa de bar. A embriaguez os faz recobrar, por momentos, uma certa dignidade profissional há muito perdida. A Busca do Tempo Perdido para eles, professores, ainda é possível? Talvez!
— Ora, direis! Por que questionar essa normalidade “como nunca se vil antes neste país”? Este é o Estado normal da norma padrão. Esse é o Congresso da educação modelo excelências excelentíssimas. À Tiririca. Normal!
E o autor literário nacional? A acreditar na quantidade de supostas editoras que oferecem seus serviços editoriais, o autor nacional está vivendo no nirvana editorial. Na realidade, nenhuma editora se interessa minimamente em ler ou avaliar os textos de autores. Principalmente daqueles que se querem lançar no mercado consumidor de literatura. O argumento é sempre o mesmo: “Seria preciso pagar dezenas de profissionais para fazer a leitura de tantos textos”. Normal!
Verdade é que inexiste uma política editorial num país onde a educação é essa aí que o leitor acaba de avaliar. Se não existe educação pertinente, como poderia haver um mercado editorial de consumo literário? De novos autores, com novas ofertas literárias? Normal!
Editor é um comerciante como outro qualquer. Seu negócio é faturar. Ganhar dinheiro. Nenhum deles, talvez, esteja à vontade para fazer avaliações literárias. Alguns deles são tão "cultos" e esnobes que não vão perder tempo lendo autores provenientes de uma educação exemplar, à brasileira. De uma educação ao estilo da Bolsa-Família. Como saber que autor merece um investimento? Com que parâmetros julgar as possibilidades de acontecer no mercado editorial se a mídia TV é quem dita quem se torna ou não conhecido no mercado? Normal!
Traduzindo: não poderá haver literatura de grande consumo num país que educa seus filhos e filhas para a vaidade de querer aparece a qualquer custo e se tornar famoso pela mostra de músculos malhados em academias da futilidade, onde se aprende a “bombar” a aparência e a desenvolver uma essência que envergonharia até mesmos os habitantes do Inferno de Dante. Normal!
As adolescentes sonham com uma participação no BBB, ou uma oportunidade de que seus "books" nas agências de propaganda possam despertar o interesse de algum mandante das passarelas. Nos desfiles de moda. E olha que não estamos falando de personagens do século XIII ou do XIV. Estamos falando da normalidade abusurda dessa sociedade neolítica do século XXI!
Estamos falando de personagens da sala de sofá neolítico do século XXI, vidradas em programação TVvisiva, vivendo seus infernos pessoais sem que consigam manter uma aparência de mínima dignidade. Normal!
Normal! Afinal, dignidade sem escolaridade? Cultura de leitura, quando muito, dos livros escritos pelo Coelho de Alice? Se é que ele escreveu algum. Algum livro que mereça esse nome. Estou falando do Coelho da Branca Alice, do Chapeleiro Maluco, personagens literários de Lewis Carrol, e cinematográficos de Tim Burton, Johnny Deep e Mia Wasikowska. O objetivo dessa menção é desconcentrar, por breves momentos, meus raros leitores das personagens do Big-Brother Brasil Cromagnon.
O Inferno dantesco torna-se mais profundo a cada círculo das personagens do BBB. A cada semana que passa o Inferno daquelas personagens irmãs que fazem tudo pelo milhãozinho e meio, mais expõem suas misérias inacreditáveis, ao longo de semanas e mais semanas onde o dolo verbal, a má-fé das atitudes, torna manifesta a natureza meramente animal (demencial) de cada participante. Normal!
Onde está, nesses programas, a ironia lewiscarrolliana?
A diferença é que o pessoal do BBB foi educado por uma escola tipo Bolsa-Família. Cada participante da normalidade social da carência de letramento básico, desprovida de outro compromisso que não seja a afirmação da própria banalidade. Normal!
Tudo justificado pela filosofia do “toca tudo por dinheiro”. “Vale tudo por dinheiro”: é preciso fazer a propaganda do comportamento pessoal e social necessários para tocar para frente as demandas e exigências comportamentais do capitalismo selvagem. Das pessoas educadas pela carência fundamental da Bolsa-Família. Em escolas onde se ensina o gosto pela aparência. Normal!
E o país todo liga a TV por que não há nada mais de melhor para ver. Num jogo dos espelhos fantástico. Onde 200 milhões de brasileiras e brasileiras se reconhecem. Mas não se acabrunham com o espetáculo da própria insanidade social. Aprendida certamente nas escolas do sofá da sala de jantar. Normal!
Aquelas personagens da barca do Inferno global nunca se cansam de mastigar, de mostrar como sabem cozinhar, de se servirem mutuamente dos excrementos facilmente distribuídos com aquele ar de simpatia e sorrisos. Normal! Tudo dentro do padrão de qualidade global. Normal!
As participantes da barca do Big-Brother fazem suas confissões arrebatadas pelo olho do furacão da sobrevivência globalizada em nome de uma audiência que, presume-se, está prestando atenção. Atenção para essas almas atormentadas pelo milhão e meio. Tão verdes! Ao mesmo tempo tão pervertidas por uma antiguidade desmedida de uma anormalidade herança da mesma educação. Da mesma bolsa família. Há tanto tempo vigente. Normal!
Mesmo as que detêm diploma de terceiro grau, parecem indefesas frente às exigências de representação alegórica presenciada nas metáforas de vidas atormentadas por carências que esse “topa tudo por dinheiro” vai, supostamente, libertá-las. A feliz arda do milhão e meio. Ela poderá ser a finalista da maratona do “topa tudo pela mufunfa do jabaculê” no próximo BBB. Normal!
O felizardo do milhão e meio, ou a feliz arda, será uma dessas participantes que aparecem toda se ardendo no quartinho confessionário do BBB verbalizando motivações. As mais vazias de sentido. Quem sabe esteja incluída entre os 896.455 universitários que abandonaram seus cursos pelas mais diversas motivações. Normal!
Tudo dentro da mais perfeita normalidade: falta de orientação no ensino médio, ensino fundamental ultradeficiente, nenhuma orientação técnica pertinente, total carência intelectual para a compreensão e a interpretação de textos, inadaptação a ambientes que exigem mais aptidão mental do que a simples mostra de coxinhas de galinha em modelitos vermelhos ajustados à sedução na passarela das salas de aula da rua Augusta. Ou nas salas de aula do Château de Versailles do Planalto Central de Dilma Pasadena. Normal!
Normal: uma estudante vestida para fisgar a atenção de seus irmãos e irmãs do BBB em direção ao vinco na extremidade da zona sul da espinha dorsal, certamente não está condizente com o ambiente voltado à concentração do aprendizado intelectivo sito no polo norte da coluna vertebral. Normal.
Essas irmãzinhas do BBB não têm a mínima noção dessa diferença de ponto cardeal. Afinal, talvez não saibam usar uma bússola. É mesmo muito difícil para elas compreender que educação é uma faculdade mental que se exercita a partir de outro ponto de referência que não seja a perereca. Sua formação de nível médio não lhes ensinou outro currículo educacional. E o ensino superior apenas o confirmou. A perereca da normalista ficou presa na gaiola: Alô, alô perereca! Aquele abraço! Normal!
Segundo informações do Censo do Ensino Superior, divulgadas pelo Ministério da Educação, as perdas financeiras com os 900 mil alunos que abandonaram seus cursos, passam de R$ 9 bilhões. Informação fornecida por Oscar Hipólito, ex-diretor do Instituto de Física do Campus São Carlos da Universidade de São Paulo, atualmente a serviço do Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação, Ciência e Tecnologia. Mais informações: http://www.dinheiro.br.msn.com/infomoney.
Editar novos autores da literatura no país do Lulla Analfabeto? Para quê? Os editores sabem que para se tornar conhecido no mercado é preciso ter uma personalidade dessas daí, tipo BBB-12, para leitor nenhum botar defeito. Todos os editores estariam interessados em investir nesses escritores e escritoras saídas da décima segunda edição do Grande-Irmão das brasileiras e brasileiras. Todos os editores que iludem os autores com propaganda enganosa de que é fácil editar seu livro, cobram dele, autor, os valores concernentes à produção do mesmo. Exceto se o autor merecer o investimento editorial, uma vez saído das cenas da escatologia social escancarada. À Big-Brother. Normal, irmão. Normal?!
— Com sua passividade e conivência?! A atual política editorial brasileira faz jus à cultura das pererecas de auditório. E a das excelências excelentíssimas tipo as Arquiduquesas e Príncipes Tiriricas do Château de Versailles do Planalto Central. Normal, irmão. Normal! Autores mesmo, que não são lagomorfos, leporídeos, estão realmente tiriricas. Fazer o quê?
— Normalidade à brasileira!