Crônica de uma praça chamada BRASIL. prrsoares

Crônica de uma praça chamada BRASIL.

As discussões do segundo dia do Seminário da Paz realizado de 18 e 19 de setembro de 2014, haviam cessado para uma pausa pro almoço. Decidi como outros colegas meus, ficar pelo centro mesmo, para fazer algumas coisas necessárias. Assim, às 12h e 07min da tarde, após dar um tchau pelo zapzap ao meu amigo e músico Léo Pissettí, passei a olhar e observar as cenas de uma bela praça chamada Brasil.

“ELES” estavam lá. Passeando, conversando, dormindo, vendendo, politicando, comendo, trabalhando, estudando. Indiferente aos olhares de quem por lá passava, essas figuras, próprias daquele lugar, ficavam no esquecimento e como que invisíveis perambulavam de um canto para o outro e como estátuas se punham cada um em sua posição de ataque, de repouso, ou de reflexão.

Atentamente, eu as fotografei no mais puro prazer de seus momentos bem peculiares. Alguns, pedi autorização, outros nem perceberam que eu estava ali, pois na verdade, quem os percebe? Homens? Deus? Sim… Deus, que lá de cima olha para cada uma de suas criaturas e de seus filhos com eterno amor.

Ali na minha frente, sentado e pensativo, o senhor de azul, olhava atentamente fixo no que o futuro lhe reservava. Uma luz de esperança irradiava em seu olhar e traçar tais objetivos se fazia notório.

O calor intenso provocava naturalmente uma predisposição ao sono suave do meio dia, assim, o descanso naquele lugar, era coletivo e cada um procurava seu cantinho pra descansar. Homem, animal, animal, homem. Todos juntos desfrutavam da mesma forma. Cama? Luxo? Pra que? Se o chão estava bem ali, abaixo do corpo de cada um como se fosse feito de pena de ganso.

Entre restos e sementes, um ser descansava e outro trabalhava, porque para viver é preciso comer, trabalhar e descansar. Essa é a vida? Essa é a vida! O coreto não emitia som algum e o mastro, estava solitário e ninguém a não ser uma pequena garrafinha vazia de pinga lhe fazia companhia.

Do lado da escadaria central, um ser igual a todos nós. Uma garrafa na mão e o corpo encostado na velha árvore que acolhia ali todo dia as tristezas e alegrias de quem lhe pedia encosto. Seu tronco era um banco e as migalhas no chão, eram refeição. Homem e pombo se uniam na disputa do bem estar social compartilhado sem receio algum, porque o Senhor ama a quem dar e divide com alegria.

O picolezeiro sorridente, seguia em frente, pois o calor daquele dia fazia a venda disparar e o seu suado dinheiro ganhar. Quem quer comprar? A vendedora de ervas medicinais ainda com um marmitex na mão revelava o segredo da saúde e da felicidade física. Chás “milagrosos” dizia ela, cura qualquer coisa, menos as doenças da alma, essas, só Jesus na causa.

Oferecer suas ervas era demais e quem comprava, se admirava. Um passo mais adiante eu percebi os fios trançados pelas mãos do hippie, que fazia arte tão perfeita que nem as mais belas galerias podiam decifrar o segredo de tanto encanto e beleza. Um pequeno cachimbo artesanal revelava o que todos já sabiam: Ele usava! Ele usava?

No canto debaixo da praça, lá meio longe o violeiro arteiro ouvia o grito de alarido de jovens destemidos pagos por algum valor para se aliar ao político tal, que por todos dizia-se legal, será? O tempo dirá.

A sede em mim bateu, mas coitado “deu”, o bebedouro estava logo ali ao lado, ocupado, tinha nele alguém sentado. Água que era bom, não existia. Mas, “Ele”, um ser igual a qualquer outro, refletia como um sujeito visível e ao mesmo tempo invisível. Coçava a cabeça desordenadamente como que girando num mundo oculto e obscuro.

Já a sombrinha, azul clara da senhora que seguia em passos semirrápidos cobria o que ela queria e os estudantes sem livros, com celulares em suas mãos, lançavam olhares com risos e sonhos, engraçados e apreciados.

A espera do próximo comprador, certa dona, em sua poltrona, não de madeira nobre, mas de plástico meio “pobre” se sentia feliz, pois o pão nosso de cada dia, ali, ela conseguia. O vendedor de sonhos esperava quem pudesse um cartãozinho comprar e o sonho de uma casa ou carro, realizar.

Fiquei surpreso porque naquela árvore frondosa, lá no galho mais alto, o pássaro preto, fitava seu olhar nos insetos a voar. Sua felicidade era a mais pura liberdade e enquanto isso, todos, lá embaixo, livres e soltos, andavam presos em seus próprios mundos. E o ipê amarelo, majestoso, era sincero e olhava a todos com sua beleza radiante, envolvente, contagiante, aconchegante, mágico.

O sino da igreja não soava, mas a cruz exposta revelava a força da fé de quem cria e fazia suas preces a Deus, o Senhor do universo. Por fim, as 13h:07min, eu me encontrava sentado num banquinho de plástico, no espetinho do Beto que atendia a todos com tal simpatia que preponderava a alegria e a satisfação de ser bem atendido.

Assim, no canto da praça, me satisfazia em comer um espeto de carne coberto de farinha com pimenta e um refri gelado pago em metade pelo meu amigo violeiro João Thalis, que me acompanhava com seu sorriso contagiante sempre estampado em seu olhar animador como quando faz com a viola na mão.

E a bela praça? Continua lá, recebendo quem por ela passar. E mais um dia seguiu…bem ali na Praça Brasil.

(*) Raimundo Soares de Andrade é coordenador Pedagógico da Escola Eunice Souza dos Santos – prrsoares@homail.com