SER LEITOR É TER OPINIÃO INDEPENDENTE

Eu estou sempre escrevendo coisas que incentivam a leitura, mas não é porque sou escritor e gostaria que as pessoas cultivassem o hábito de ler e com isso, quem sabe, eu conseguir trazer mais gente para o que eu escrevo. Faço isso para tentar dar uma forcinha para as pessoas se libertarem das garras dos meios de comunicação, que se valem mais da imagem, do áudio e do vídeo por ser mais possível manipular opinião por esses canais ou pela junção deles.

Veja bem, quando você está diante de um texto puro e simples a participação de seu autor é a de apenas colocar em palavras escritas concatenadamente o que ele pensa. Daí para frente fica por conta do leitor assimilar o texto, fazer sua análise e tirar suas próprias conclusões. Mesmo que coincidam essas conclusões com a do autor do produto literário escaneado. O leitor tem essa liberdade e ninguém ou nenhum outro sentido sendo estimulado o atrapalha nisso.

E agora vamos analisar um audiovisual. Em Belo Horizonte é comum os torcedores dos times locais assistirem à transmissões de jogos pela tevê substituindo a pista de áudio da onda de televisão pelo áudio de uma emissora de rádio que também faz a transmissão. Excluindo os problemas de sincronização e os estilos dos locutores, acaba-se vendo dois jogos diferentes.

Em alguns lances a tevê prioriza a ação do marcador em cima de um atacante, o marginalizando ou o endeusando, que são exemplos do que faz a locução, a pedido da direção do veículo de comunicação ou do patrocinador da transmissão, e a emissora de rádio prioriza a ação do atacante. E vice-versa.

E quando a tevê usa o videoteipe – em velocidade normal, em câmera lenta ou com uso de algum recurso tecnológico sobre a imagem – a interpretação do mesmo lance pode ficar ainda mais diferente entre os mecanismos midiáticos. E o telespectador, que é quem se expõe à transmissão televisiva e quem ela pode interessar-se em corromper a visão dos fatos, acaba sendo didaticamente levado a concluir como o locutor faz parecer. Mesmo estando vendo nitidamente outra coisa. A realidade passa a ser algo maquinável e nada confiável.

Qualquer um pode observar isso. Basta observar com cautela e com a mente livre de doutrinações, na próxima vez que for se expor a uma transmissão de uma partida de futebol ou de outro evento social. A teledramaturgia também faz uso dessa tática. Subliminar ou diretamente.

Futebol, carnaval, cerimônia do Oscar, noticiários, teledramaturgia, propaganda, com exceção da eleitoreira, cinema, tudo isso é besteira e não precisamos nos importar se nos distorcem os fatos por meio dos recursos técnicos quando nos disponibilizam a presença remota. Mas, em se observando que essa ilustração que faço procede, perceba o quão é poderoso o mecanismo em termos de fazer você pensar de um modo que não é o que você deseja ou o melhor para você e meça se não vale mais a pena se desprender dessa possibilidade de ser maquinado e optar pela leitura nua e crua, ainda que seja o texto lido desonesto. Afinal, papel aceita tudo, mas não decide por você. As outras mídias decidem. Pense nisso!