LUZ ALUMBRA NO AMAR

Cada pessoa visualiza o mundo a partir de como o concebe, e há quem se apossa do objeto de seu singular sentir amoroso e o curtirá a vida inteira, às vezes até a morte, em laivos de felicidade plena. Outros humanos seres sentem na carne e no espiritual que o amar é fósforo: a luz alumia por um tempo e depois se extingue no corpo e no presencial das esperas, com o diminuto brilho do que ainda restou numa das partes. Porque nunca os dois pólos se entregam na mesma intensidade. E, neste sentir, a mulher é bem mais intensa e desejosa de permanência, ainda que bem aceito o mundo do "ficar" e a efemeridade das relações contemporâneas, especialmente entre os jovens. E é esta tentativa de "durabilidade" que dá azo aos grilhões da possessão, que tantas vezes passam despercebidos por uma das partes do jogo amoroso, tentando a atração fatal. Tenho para mim que – no amar – uma porção é do mundo dos fatos, a outra é a farsa que se poderá construir como conveniente verdade. Talvez porque não há como viver-se sem a túnica alegórica da fantasia.

– Do livro POESIA DE ALCOVA, 2014.

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